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terça-feira, 8 de abril de 2014 | | 0 comentários

A vida (latino-americana) como ela é

(...) Levei 30 anos para compreender que as telenovelas são uma metáfora dramatizada do populismo latino-americano. Essas atrações lidam não tanto com o amor não correspondido, e mais com mitos de redenção social tão imortais quanto o de Evita Perón.

O tema mais frequente prescreve a redistribuição de riqueza entre os pobres, com pouca consideração sobre como essa riqueza é criada, o que explica muito sobre a história recente da Venezuela e seu estilo peculiar de socialismo, conhecido como chavismo. Muitos populistas demagógicos latino-americanos propagaram desde 1930 essas "soluções" inspiradas em Robin Hood para a pobreza e as injustiças. (...)

Fonte: Ibsen Martínez, “Caos, chavismo e uma telenovela”, “Folha de S. Paulo”, 8/4/14 (texto originalmente publicado na seção “Intelligence” do jornal “The New York Times”).

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011 | | 0 comentários

Vik Muniz na novela

Só hoje, no último capítulo de “Passione”, a novela das 21h da Rede Globo escrita por Silvio de Abreu, vi nos créditos finais que as obras de arte que ilustram a abertura são do artista brasileiro Vik Muniz. Radicado em Nova York há décadas, ele foi alvo de uma postagem no blog em novembro de 2008 (leia aqui).

Até hoje, só vi pessoalmente uma obra de Vik Muniz - um "Self-Portrait" ("Autorretrato"). Foi no High Museum, o museu de arte de Atlanta, nos Estados Unidos.


Em tempo: o High Museum tem trabalhos de Van Gogh, Monet, Renoir, Michelangelo e principalmente de artistas norte-americanos. Os trabalhos de arte contemporânea, onde está a obra de Muniz, chamam a atenção. Em todo o museu, são 11 mil peças, incluindo pinturas e quadros americanos, europeus e africanos.



Além das obras, o próprio prédio do museu chama a atenção. Reformado e ampliado há pouco tempo, ele possui uma arquitetura que lembra o Guggenhein de Nova York – não necessariamente pelo formato semelhante, mas sim pela ousadia das formas. O High Museum possui amplos vãos; rampas que, vistas do alto, parecem se movimentar; é todo angulado, enfim, merece ser apreciado.





* Para quem quiser um passeio virtual, o site do museu pode ser acessado aqui.

quarta-feira, 19 de maio de 2010 | | 2 comentários

A emoção das novelas

O que faz com que a dona-de-casa se emocione ou até mesmo sinta raiva diante de uma cena de telenovela? Por que este tipo de dramatização suscita sentimentos e reflexões sobre a própria condição do telespectador? Para responder a estas e outras questões sobre a telenovela brasileira, a psicóloga Cristiane Valéria da Silva mergulhou em estudos teóricos sobre o tema, com foco na psicologia social. Ela quis entender as estratégias narrativas que prendem o telespectador em uma trama que perdura, em média, de seis a sete meses.

“Trata-se de um fenômeno que atinge todas as idades e gêneros e chama a atenção em qualquer lugar que se vá. Mesmo quem não acompanha uma determinada novela, sabe do que trata o enredo, muitas vezes em detalhes. Por outro lado, o assunto é permeado pelo preconceito, principalmente na academia”, destaca Cristiane.

Suas considerações acerca do tema resultaram em dissertação de mestrado apresentada no Instituto de Artes (IA), sob orientação da professora Cláudia Maria Braga. Cristiane partiu do princípio de que o processo de identificação com o personagem e com a situação da dramatização em questão indica necessidades de se emprestar experiências que não podem ser vividas. “Existe a necessidade de que fagulhas de uma vida não vivida se apresentem como possibilidades de experiência, mesmo que emprestada”, destaca.

Segundo Cristiane, um conceito de Umberto Eco, a consolação, ajuda a pensar a telenovela como uma fuga ilusória do cotidiano. Muitas vezes o telespectador funde o cotidiano concreto e o ficcional e isto leva ao envolvimento na trama de tal forma que o faz refletir sobre suas próprias situações. “São configurações psíquicas que são acionadas diante da necessidade de consolação que a sociedade possui. Um sofrimento ou impedimento de superação engendra uma fuga ilusória do cotidiano como mecanismo de defesa”, explica.

O fenômeno está cada vez mais presente no cotidiano da população. Se há alguns anos uma única emissora apresentava as novelas em dois horários, hoje se observa um número espantoso de diferentes histórias em horários e emissores diferentes. Este fato desperta críticas e questões em torno da alienação. No entanto, em sua pesquisa, a psicóloga defende que a telenovela não é a vilã da história. “A questão da alienação passa por uma organização social que promove o embotamento dos sentidos. Há que se pensar ainda que as possibilidades de formação cultural são praticamente nulas e, por isso, a telenovela parece substituir a experiência”, esclarece.

Fonte: "Dissertação de mestrado analisa estratégias narrativas de telenovelas", Raquel do Carmo Santos, Jornal da Unicamp, ano 24, nº 462.