segunda-feira, 19 de agosto de 2013 | |

Um ataque ao jornalismo e ao mundo

O Terrorism Act of 2000 já era polêmico, principalmente em seu item 7, que permite à polícia de fronteira deter pessoas sem qualquer tipo de mandado judicial no Reino Unido. Com o caso da detenção do brasileiro David Miranda, o que era polêmica virou um escândalo mundial.

Muito já foi apresentado sobre o assunto e não pretendo ser repetitivo. Gostaria apenas de enaltecer dois pontos:

1 – está mais do que claro após as mentiras que levaram à Guerra do Iraque (lembra da história das armas de destruição em massa?) e os vazamentos do Wikileaks e de Edward Snowden que a restrição de direitos civis adotada após os atentados de 11 de Setembro extrapola qualquer norma do direito internacional.

2 – está mais do que claro que, em nome do suposto combate ao terrorismo, os governos mentem e desrespeitam direitos.

A questão-chave é: o que querem esconder, afinal?

A detenção de Miranda no aeroporto de Heathrow, na Inglaterra, expôs esta questão de modo muito claro. Em tese, o Reino Unido pouco tem a ver com os vazamentos promovidos por Snowden, um ex-agente da NSA, a agência nacional de segurança dos Estados Unidos. Por mais que uma unidade britânica também tenha sido envolvida nos vazamentos, o foco é o governo norte-americano.

Por que, então, a detenção em Londres justificada por uma norma contra o terrorismo se não há suspeita alguma contra Miranda a este respeito? A resposta é mais do que óbvia: ele foi detido unicamente pela ligação com o jornalista Glenn Greenwald, de quem é namorado. Greenwald é autor das reportagens sobre a vigilância ilegal da NSA sobre cidadãos de todo o mundo.

Oficialmente, o governo britânico justificou a detenção de Miranda como uma “questão operacional da Polícia Metropolitana de Londres”. Se era uma questão meramente operacional da polícia local, por que então o governo norte-americano foi avisado com antecedência, como a própria Casa Branca admitiu?

O que está em jogo, portanto, são as liberdades individuais e a liberdade de imprensa, princípios básicos do direito internacional e de qualquer sociedade democrática – como alegam ser a norte-americana e a britânica.

Não custa lembrar que, em nome do combate ao terrorismo, um brasileiro foi assassinado no metrô de Londres anos atrás.

“Eles abusaram completamente da própria lei contra o terrorismo por razões que não têm nada a ver com terrorismo: uma forte lembrança de quão frequentemente os governos mentem quando alegam que precisam de poderes especiais para combater ‘os terroristas’, e quão perigoso é dar poderes sem limites em nome disto”, escreveu Greenwald em artigo para o “The Guardian”, jornal para o qual trabalha.

“Isto foi obviamente armado para transmitir uma mensagem de intimidação”, afirmou o jornalista. “É obviamente uma profunda escalada de ataques aos métodos da imprensa e ao jornalismo. É ruim processar e prender fontes. É pior ainda prender jornalistas que transmitem a verdade. Mas começar a deter familiares e pessoas queridas dos jornalistas é simplesmente despótico. Até a Máfia tem regras éticas a respeito de familiares das pessoas por quem ela se sente ameaçada”.

Greenwald garantiu que a tentativa de intimidação não surtirá efeito. Ou melhor: terá efeito contrário. Ele garante que manterá seu trabalho, com ainda mais ênfase.

Que assim seja!

“Cada vez que os governos dos EUA e Reino Unido mostram sua verdadeira face ao mundo (...) tudo o que fazem é ajudar a sublinhar porque é tão perigoso permitir que executem o vasto e ilimitado poder de espionagem”.

É no que acredito.

A dúvida é: a quem caberá colocar as necessárias barreiras aos aparentemente intermináveis abusos? O que fará o governo brasileiro além do tradicional “blá-blá-blá” diplomático? E os governos do resto do mundo? 

Ou esperaremos passivamente por novos Jean Charles e David Miranda?

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