quinta-feira, 29 de agosto de 2013 | |

E agora, José?

O impensável aconteceu.

Estava tudo tão fácil, era como chutar cachorro morto. Bastava jogar a pá de cal: o deputado Natan Donadon (ex-PMDB/RO) está preso, condenado pelo STF (Supremo Tribunal Federal), de modo que a cassação do mandato seria quase protocolar.

Mas não: a Câmara dos Deputados preferiu o suicídio, como bem definiu o jornalista Josias de Souza em seu blog.

Sob o escudo cada vez mais injustificável do voto secreto, manteve inconcebivelmente o mandato de um parlamentar condenado e preso, um “cadáver político”, conforme Josias.

O colunista da “Folha de S. Paulo” recorreu a adjetivos e advérbios absolutamente felizes (se é que se pode falar em algo feliz nesta história) para descrever o que ocorreu na Câmara Federal na noite de 28 de agosto, de modo que me cabe apenas repeti-los diante da ausência de melhores palavras. Repetirei em caixa alta, como se diz no mundo gráfico:

NOITE CONSTRANGEDORAMENTE DEPLORÁVEL.

Foi o que se viu. Pela primeira vez na história do Parlamento brasileiro, um presidiário de terno e gravata ocupava a tribuna e exprimia palavras deprimentes, para acentuar o tom constrangedor da noite:

- Esses 60 dias que eu estou preso lá, tenho sofrido muito. Tenho sofrido muito. É desumano o que um prisioneiro passa. A minha família tem sofrido muito. Por favor, me absolvam. Essa Casa é independente!


Se mentiu a respeito de sua inocência, Donadon sabia bem o que estava falando quando apelou aos colegas pregando a independência do Legislativo. Nas entrelinhas, estava dando recados.

E os recados foram entendidos.

O fato está posto, não tem volta. O Brasil conseguiu a façanha de ter um deputado, com mandato eletivo, atrás das grades. Uma “anomalia”, definiu Josias.

Minha dúvida é: o que faremos nós todos, os brasileiros, a sociedade, o povo que foi às ruas em junho cobrar melhorias e mudanças nos rumos deste país?

Minha dúvida é: você, em outubro de 2014, vai votar em quem?

Não me causará espécie se, apurados os votos, ver no Parlamento os Feliciano, os Otoniel (e os votos de cabresto que ambos recebem de fiéis eleitores), os Sarney, os Renan, os Jader, os Maluf, os... Donadon.

Quem os coloca lá, afinal? Será algum marciano?

Até quando vão faltar educação e consciência política neste país, molas propulsoras do populismo demagógico (sim, é pleonasmo, foi intencional), da hipocrisia e da corrupção?

Pois é, tudo leva a crer que o sistema político não mudará, as caras não mudarão, os modos não mudarão porque, antes e acima de tudo, o povo (com exceções, claro) em sua grande parte não mudará. E não mudará porque lhe falta vontade, interesse, consciência e educação.

Sim, temos nossa parcela de culpa, nossa tão grande culpa.

Sei que não se muda um país sozinho e tampouco sei agora o que podemos cada um de nós individualmente fazer. Juntos, porém, temos força. Teremos força. Somente a união nacional será capaz de escrever uma nova história.

Então voltemos às ruas! Com ainda mais força!

Porque, ao que parece, eles realmente não entenderam o recado.

Ou simplesmente ignoraram porque, bem... quando os votos forem apurados...

Como escreveu o poeta: e agora, José?

Em tempo: já que 131 nobres deputados (fora 41 que se abstiveram, algo incompreensível) se compadeceram das dores de Donadon, por favor ouçam o apelo do nobre deputado-presidiário: a comida da cadeia é ruim, falta água e o banho é frio.

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