O impensável aconteceu.
Estava tudo tão fácil, era como chutar cachorro morto.
Bastava jogar a pá de cal: o deputado Natan Donadon (ex-PMDB/RO) está preso,
condenado pelo STF (Supremo Tribunal Federal), de modo que a cassação do
mandato seria quase protocolar.
Mas não: a Câmara dos Deputados preferiu o suicídio, como
bem definiu o jornalista Josias de Souza em seu blog.
Sob o escudo cada vez mais injustificável do voto secreto,
manteve inconcebivelmente o mandato de um parlamentar condenado e preso, um “cadáver
político”, conforme Josias.
O colunista da “Folha de S. Paulo” recorreu a adjetivos e
advérbios absolutamente felizes (se é que se pode falar em algo feliz nesta
história) para descrever o que ocorreu na Câmara Federal na noite de 28 de
agosto, de modo que me cabe apenas repeti-los diante da ausência de melhores
palavras. Repetirei em caixa alta, como se diz no mundo gráfico:
NOITE CONSTRANGEDORAMENTE DEPLORÁVEL.
Foi o que se viu. Pela primeira vez na história do
Parlamento brasileiro, um presidiário de terno e gravata ocupava a tribuna e
exprimia palavras deprimentes, para acentuar o tom constrangedor da noite:
- Esses 60 dias que eu estou
preso lá, tenho sofrido muito. Tenho sofrido muito. É desumano o que um
prisioneiro passa. A minha família tem sofrido muito. Por favor, me absolvam.
Essa Casa é independente!
Se mentiu a respeito de sua
inocência, Donadon sabia bem o que estava falando quando apelou aos colegas
pregando a independência do Legislativo. Nas entrelinhas, estava dando recados.
E os recados foram
entendidos.
O fato está posto, não tem
volta. O Brasil conseguiu a façanha de ter um deputado, com mandato eletivo,
atrás das grades. Uma “anomalia”, definiu Josias.
Minha dúvida é: o que faremos
nós todos, os brasileiros, a sociedade, o povo que foi às ruas em junho cobrar
melhorias e mudanças nos rumos deste país?
Minha dúvida é: você, em
outubro de 2014, vai votar em quem?
Não me causará espécie se,
apurados os votos, ver no Parlamento os Feliciano, os Otoniel (e os votos de
cabresto que ambos recebem de fiéis eleitores), os Sarney, os Renan, os Jader, os
Maluf, os... Donadon.
Quem os coloca lá, afinal?
Será algum marciano?
Até quando vão faltar
educação e consciência política neste país, molas propulsoras do populismo
demagógico (sim, é pleonasmo, foi intencional), da hipocrisia e da corrupção?
Pois é, tudo leva a crer que
o sistema político não mudará, as caras não mudarão, os modos não mudarão
porque, antes e acima de tudo, o povo (com exceções, claro) em sua grande parte
não mudará. E não mudará porque lhe falta vontade, interesse, consciência e educação.
Sim, temos nossa parcela de
culpa, nossa tão grande culpa.
Sei que não se muda um país
sozinho e tampouco sei agora o que podemos cada um de nós individualmente
fazer. Juntos, porém, temos força. Teremos força. Somente a união nacional será
capaz de escrever uma nova história.
Então voltemos às ruas! Com ainda
mais força!
Porque, ao que parece, eles
realmente não entenderam o recado.
Ou simplesmente ignoraram
porque, bem... quando os votos forem apurados...
Como escreveu o poeta: e
agora, José?
Em tempo: já que 131 nobres deputados (fora 41 que se abstiveram, algo incompreensível) se compadeceram das dores de Donadon, por favor ouçam o apelo do nobre deputado-presidiário: a comida da cadeia é ruim, falta água e o banho é frio.
0 comentários:
Postar um comentário