segunda-feira, 19 de agosto de 2013 | |

O novo e o velho Brasil

O Nordeste brasileiro foi (talvez ainda seja) durante décadas o símbolo maior do nosso atraso (mais até do que regiões mais pobres, como o Norte) e da desigualdade de renda. Ao lado de paraísos naturais que atraem a atenção do mundo inteiro existiam bolsões de miséria e pobreza que reduziam o ser humano ao mais indigno dos seres.

Nada diferente do que se encontra em qualquer cidade de médio e grande portes do Brasil, mas lá estava tudo muito escancarado - talvez pelo fato da região ser um importante polo turístico, atraindo pessoas de fora. Suas belezas e suas feridas estavam expostas cruamente.

Com o crescimento da economia brasileira nos últimos anos e os programas de distribuição de renda do governo, o Nordeste passou a atrair investimentos. Antes relegado a segundo plano, virou foco de grandes corporações nacionais e internacionais. 

Naturalmente, ainda se ouve por aí que o mercado consumidor está no Sul-Sudeste, notadamente no eixo Rio-São Paulo. Isto é verdade, mas é inegável que a paisagem nordestina vem mudando. A região talvez seja um bom exemplo do "novo Brasil' que se anunciou ao mundo, embora mantenha marcas do "velho Brasil" que todos conhecemos, como vi nas proximidades de Fortaleza e em Pecém, distrito de São Gonçalo do Amarante, no Ceará. 






Na mesma área, conheci o porto de Pecém - um importante projeto de desenvolvimento do estado e da região Nordeste. Chamou minha atenção numa rodovia um gigantesco corredor de ferro que passava sobre nossas cabeças, como uma passarela. É destinado a levar produtos diretamente ao porto, pelo que soube. 

Um contraste da infraestrutura que falta de um lado e sobra de outro.





Fui até o Ceará em razão de um megaprojeto: a construção de uma usina siderúrgica na região de São Gonçalo do Amarante. Um investimento de cerca de R$ 5 bilhões, capital nacional (da Vale do Rio Doce) e sul-coreano. Trata-se de um bom exemplo de atração de dinheiro e da movimentação da economia em nível nacional e internacional. Para se ter uma ideia, parte da obra da usina está sendo tocada por uma construtora de Limeira, interior de São Paulo. Coisa de centenas de milhões de reais e três anos de trabalho.

Os investimentos levaram novos sotaques à região, literalmente invadida por paulistas e sul-coreanos. Eles lotam restaurantes e ocupam hotéis e pousadas inteiras (no caso da empresa de Limeira, um escritório foi construído lá). Injetam recursos na economia local. E vem mais por aí, afinal dinheiro atrai dinheiro.

Soube dia desses que quando a usina estiver funcionando terá 15 mil funcionários - um terço da população de São Gonçalo. Estas pessoas certamente não encontrarão moradias suficientes na cidade - ou seja, novos investimentos serão necessários. Eles trarão mais gente de fora, cada um carregando na bagagem sua cultura, promovendo um intercâmbio que, se bem aproveitado, enriquecerá a região em outros aspectos que não somente o econômico.

Há, portanto, perspectivas positivas para áreas do Brasil antes destinadas ao esquecimento. Como persistem desafios gigantescos. Uma situação que pode ser bem exemplificada pelas torres que crescem na capital Fortaleza e pelas palhoças que se vê a poucos quilômetros, na região metropolitana.





* As fotos são minhas e de Thiago Mettitier

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