Contudo, "Saramandaia" merece um registro. Do texto aos cenários, das temáticas ao elenco, passando pela abertura e o acabamento geral, a novela - um "remake" inspirado no original do genial Dias Gomes, exibido em 1976 - é um primor.
Eu me divirto com os diálogos e as "invencionices" linguísticas dos personagens, o "bolibolismo" (ou "saramandismo", se preferir), algo presente no original e perfeitamente mantido na adaptação atual. De um dos capítulos, retirei as seguintes frases e palavras:
- exagerância, previsões meteorologísticas, deverasmente periclitante, acautelatório, "falassice" (nem sei como se escreveria isto), de repentemente;
- Mas vou lhe confessar que o meu curiosismo me mata.
- Chega de conversionismo.
- Não aceito o derrotismo!
- Quanto gentilismo das pessoas, mas eu já estou bastantemente melhor.
- Era apenasmente um sonho.
As atuações todas são primorosas, mas merecem destaque as participações de Vera Holtz na pele da engraçadíssima Dona Redonda (e ela vai explodir na clássica cena, já gravada); Matheus Nachtergaele como Seu Encolheu, o marido da Redonda; e Aracy Balabanian como Dona Pupu - os três impagáveis em seus papéis.
A abertura merece um elogio especial ao recorrer ao desenho e insinuar o realismo-fantástico que marca o enredo. Este, aliás, repleto de menções metafóricas e alegóricas a temas da realidade brasileira, mantém-se vivo, mesmo após mais de 30 anos da exibição do original.
É relevante também o fato da novela recorrer a metáforas e alegorias para tratar de questões já presentes na década de 1970 e ainda mais importantes no século 21, como a dificuldade da sociedade em lidar com o diferente - algo exemplarmente tratado por meio do personagem João Gibão, vivido pelo ator Sérgio Guizé.
Tudo isso somado à trilha sonora fantástica, que tem como ápice (embora ausente da abertura) o clássico de Ednardo, "Pavão Mysteriozo", faz de "Saramandaia" um deleite para os fins de noite.
É divertismo puro!
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