Minha primeira vez na Redação da Folha coincidiu com a chegada dos
computadores.
Até então, o ambiente era dominado pelas máquinas de
escrever e pela fumaça dos cigarros.
Fui testemunha ocular da rejeição instantânea de alguns
colegas à novidade tecnológica.
Uns profetizavam que a chegada das "máquinas
silenciosas com monitores parecidos com os de TV" era um sinal do fim do
jornalismo. Outros se agarravam nostálgicos às suas Olivettis como náufragos
diante de uma boia no convés do Titanic.
Temo que o atual debate "jornalismo convencional x
redes sociais" (...) repete o falso dilema "computador x máquina de
escrever". A comparação entre ferramentas diferentes, somada à confusão
entre ferramenta e usuário, conduz a conclusões distorcidas.
A mudança central que computadores trouxeram ao jornalismo
foi conectar os profissionais na Redação e, depois, fora delas. As informações
passaram a ser compartilhadas em tempo real, flexibilizando as decisões
editoriais e os prazos de fechamento.
Era o início tímido da aceleração espantosa que
experimentamos hoje na publicação das notícias na era das redes sociais.
Já as redes sociais não representam uma mudança de hardware,
mas de software. Na história da comunicação, a transmissão da informação sempre
foi unidirecional.
Na revolução digital, as redes sociais subverteram esse
fluxo. Leitores não querem mais ser só leitores. Querem também publicar,
criticar, influenciar. Substitua leitores por telespectadores, ouvintes,
empresas, consumidores, alunos, professores, chefes, funcionários, pais,
filhos, torcedores, clubes de futebol e sinta o tamanho da encrenca.
Depois das manifestações de junho, a Folha passou a ser enfática em
criticar as redes sociais. Em um editorial, chegou a alertar: "É honesto
reconhecer um aspecto corporativo nessas críticas".
Não questiono a legitimidade das críticas, mesmo
corporativas, e até concordo com algumas delas. O equívoco é como se
fundamentam: na tentativa inglória de separação asséptica entre
"jornalismo convencional" e redes sociais.
(...) Ora, blogs e redes sociais são apenas ferramentas, sem
vida própria. Podem ser usadas bem ou mal, por profissionais ou amadores. Ao
que me consta, esta Folha tem blogs e está nas redes sociais.
Resta a pergunta: qual o significado, em 2013, da expressão "mídia
convencional"?
Não é mera questão semântica. Quem pensa fazer parte da
"mídia convencional" parece ainda acreditar na existência de um
"leitor convencional". Mesmo contra a vontade, a mídia antiga já foi
empurrada para a revolução digital pelos seus próprios usuários. É hora de nos
desapegarmos dos falsos dilemas e reinventarmos o jornalismo.
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