A proposta da importação de
médicos cubanos parece não ser de contratos individuais com eles e sim um
“pacote” em que um dos contratantes seria o governo cubano. Isso significa, na
prática, que mais de 50% do salário pago pelas autoridades brasileiras aos galenos
iria não para o bolso deles, e sim para alimentar a ditadura cubana.
(...) Nesse tipo de contrato do governo cubano, os médicos não têm as liberdades usuais dos profissionais do Brasil. Eles não são autorizados a viajar, participar de congressos ou fazer manifestações políticas contra o sistema de saúde do Brasil e muito menos de Cuba. Qualquer desvio no cumprimento desse “pacto de bom comportamento” implica o retorno imediato do médico a Cuba e outras represálias posteriores.
(...) Para a grande maioria dos médicos cubanos, viajar para trabalhar em outro país (mesmo nos países mais pobres da África) é um sacrifício desejável. O salário mensal de um profissional da saúde em Cuba não supera os R$ 100,00. Mais de seis vezes abaixo do salário-mínimo brasileiro. Mesmo no caso em que o governo brasileiro pagasse um décimo do que paga a um análogo local, ainda assim haveria uma infinidade de galenos cubanos interessados.
Quanto à qualidade, existem em Cuba, como em quase todos os países, médicos excelentes e médicos ruins. Talvez o diferencial seja quanto ao número. Quando eu fiz as provas do vestibular para entrar na universidade em Havana, a carreira menos concorrida era a de medicina. Os candidatos que queriam garantir não ficar fora da universidade colocavam medicina como última opção (ao contrário do que acontece no Brasil e em boa parte do mundo). Isso foi resultado de uma política populista da ditadura, a formação de médicos em grandes quantidades.
Todo professor sabe que não é a mesma coisa ministrar uma aula para 20 estudantes e para 50. Considerando os custos da educação médica e o nível de vida paupérrimo em Cuba, não é de estranhar que a qualidade, em média, tenha sido comprometida pela quantidade dos mesmos.
Entendo que os Conselhos de Medicina brasileiros possam se sentir ameaçados diante do possível aumento da concorrência. Dou razão a eles quando exigem que os médicos cubanos não sejam tratados como exceção e passem pelas mesmas provas por que passa todo profissional formado no estrangeiro. Segundo as estatísticas do Revalida, exame atual, somente 20% dos médicos formados em Cuba (incluídos os brasileiros) passam nas provas.
Devo dizer também que a “escola latino-americana” de medicina em Cuba somente aceita, sem pagar os custos do curso, candidatos indicados pelos partidos políticos favoráveis ao regime dos Castros.
Sou a favor, sim, da vinda de médicos cubanos ou de qualquer outra parte do mundo para cuidar da saúde dos brasileiros, mas não na forma de “pacote” firmado entre governos com interesses espúrios e que restringem explícita ou implicitamente as liberdades individuais.
Fonte: Juan López Linares, "Sobre a importação de médicos cubanos", Jornal
da USP Online, ano 18, número 1.008, postado em 4/7/13.
Em tempo: Linares é cubano
naturalizado brasileiro, professor da faculdade de Zootecnia e Engenharia de
Alimentos da USP (Universidade de São Paulo).
Só para registrar: não tenho objeção alguma à contratação de médicos estrangeiros pelo governo brasileiro, desde que:
1) TODOS os profissionais passem pelo Revalida, prova que serve para convalidação dos diplomas de outros países e aferição da capacidade técnica do profissional;
2) seja comprovada a capacidade de comunicação em português, tal como os exames TOEFL para o inglês;
3) os salários sejam recebidos DIRETA e INTEGRALMENTE pelo profissional que presta o serviço e não por governo algum.
No caso da importação de médicos de Cuba, a parceria firmada pelo governo brasileiro via OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde) prevê o pagamento ao governo cubano. Isto significa que o meu, o seu, o nosso dinheiro (pago via impostos) servirá, em última análise, para financiar uma DITADURA!
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