Ken Doctor
faz jus ao título de guru da indústria jornalística americana.
Seu livro
"Newsonomics" destrinchou as transformações e desafios que jornais e
revistas americanos enfrentaram com a irrupção da internet e apontou saídas
para sua sobrevivência e solidez financeira. Seu blog é campeão de audiência
entre profissionais da área.
Analista da
consultoria Outsell, Doctor diz que a indústria jornalística tem diversas
razões para comemorar em 2012, ao contrário do pessimismo de anos anteriores.
Ele afirma
que o leitor já provou que está disposto a pagar por conteúdo exclusivo e de
qualidade, vide o sucesso das assinaturas digitais do "New York
Times", do "Financial Times" e do "Wall Street
Journal".
Diz que o
tablet é um aliado para quem acredita na leitura mais calma de textos mais
longos e que os jornais estão aprendendo a usar mais sua marca. Ele falou à
Folha de sua casa em Santa Cruz, Califórnia.
Folha - O
"New York Times" conquistou mais de 400 mil assinantes para a edição
digital. As pessoas vão se acostumar a pagar por notícia?
Ken Doctor -
Essa assinatura digital está se tornando uma fonte incrível de receita. Se você
faz certo, as pessoas vão assinar e pagar pelo conteúdo exclusivo. O sucesso da
cobrança digital do "New York Times" e de outros títulos de qualidade
é algo muito recente, com menos de dois anos. Se a circulação de jornais no ano
passado movimentou US$ 30 bilhões, não tenho dúvidas de que uma boa parte desse
negócio pode ser preservada.
O sr.
destacou o tablet como uma grande notícia para as finanças dos jornais. Por
quê?
Cada vez
está mais claro que o tablet está substituindo o desktop e o laptop como
instrumento para ler notícias. Está comprovado que o leitor lê reportagens mais
longas e com mais calma no tablet que no computador. Também é uma plataforma
melhor para os anunciantes, a propaganda funciona melhor nele. Essa
transformação também corta um dos maiores custos dos jornais: a impressão.
As notícias
produzidas e investigadas por jornais são "pirateadas" por vários
sites, em que o acesso é de graça. Como mudar essa equação?
As pessoas
estão se acostumando mais a pagar por conteúdo na internet, no tablet e na TV.
Hulu [compartilhamento de filmes e programas de TV], Pandora [música], Comcast
[cabo], Netflix [filmes] já oferecem vasto conteúdo se você pagar uma vez por
mês. Se for fácil para pagar, confortável, e não for apenas uma réplica em
"pdf" do que está impresso, as pessoas estão começando a pagar.
Talvez a edição de domingo em papel se mantenha por mais tempo; as outras terão
mais interatividade digital durante a semana.
O leitor
terá um peso maior nesse novo ambiente?
As empresas
jornalísticas vão ter que se acostumar a ter mais dinheiro dos leitores que dos
anunciantes. A relação muda. As receitas costumavam vir 80% dos anunciantes e
20% das assinaturas nos EUA. Na Europa, a divisão era 35% dos leitores, 65% dos
anunciantes. Mas no Japão o assinante sempre foi 70%. É para onde estamos indo.
O que esse
leitor que paga na internet busca?
O jornal da
minha cidade, o "Santa Cruz Sentinel", tinha 14 repórteres cobrindo o
noticiário local. Na crise, foi demitindo, sobraram oito. Ainda é um bom número
porque, comparativamente, nem as redes de TV nem os jornais nacionais cobrem o
meu cotidiano. Por esse conteúdo, eu quero pagar. Notícias de celebridades eu
posso ler de graça em qualquer site nacional. Agora, o que o
"Sentinel" fala de educação, notícias locais, investigação, ninguém
cobre como eles. O leitor vai decidir. Redações que sacrificaram demais seu
time de repórteres terão mais dificuldade de provar ao leitor que ele recebe um
conteúdo que vale a pena.
Fonte: Raul
Juste Lores, “Leitores estão dispostos a pagar por conteúdo digital exclusivo”,
Folha de S. Paulo, Mercado, 5/8/12, p. B-12 (para ler na íntegra, clique no
link – é preciso ter senha do jornal ou do UOL).
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