“Em Nova York, pagávamos para o motorista de táxi esperar na
calçada até termos trancado a porta de entrada com segurança. Estávamos sempre
conscientes de qualquer pessoa em nossa proximidade imediata. Ninguém ficava
conversando na rua, mas tínhamos de estar alerta o tempo todo. Cuidávamos de
ter sempre ao menos 20 dólares no bolso toda vez que saíamos de casa, para o
ladrão não nos dar um tiro por frustração, mas tínhamos também o cuidado de não
levar mais – nem de estar muito bem-vestidos. Sempre que saíamos à noite,
deixávamos o rádio ligado e a luz acesa para desencorajar os ladrões. Ao nos
aproximarmos de nosso prédio, já preparávamos a chave com a mão no bolso para
não perder nem um segundo mais que o necessário diante da porta. Caminhávamos
em linha reta pela calçada e só no último momento virávamos para nossa porta,
para não dar nenhum indício de nossas intenções ou nossa vulnerabilidade a
algum malandro de plantão. No metrô, ninguém olhava para os outros passageiros.
(p. 52-3)
terça-feira, 13 de novembro de 2012 | Postado por Rodrigo Piscitelli às 17:19 |
NY contra o crime: um exemplo
Nova York era uma cidade empobrecida, literalmente no limiar
da bancarrota. Uma mulher que eu conhecia comprou uma casa geminada de pedra
marrom no Village por 30 mil dólares e disse: 'Sei que nunca irá valorizar, mas
sou sentimental com a cidade'. O lixo não recolhido se empilhava nas calçadas.
O pavimento estava rachado e levantado pelas raízes das árvores. As lâmpadas
queimavam e não eram substituídas. A taxa de criminalidade era alta. (p. 96)
Nos anos 1970, Nova York era tão vagabunda, tão perigosa, tão
negra e porto-riquenha que o resto dos Estados Unidos branco erguia as saias e
saía correndo na direção oposta. O turismo era decadente (...). A campanha da
'Big Apple' e o lema 'I Love New York' (com o ícone do
coração no lugar da palavra love)
foram inventados para remover a maldição da cidade. O contrário era verdadeiro.
Ninguém amava Nova York (...). Às vezes, na empresa química eu encontrava
pequenos funcionários de Staten Island que tomavam o metrô e a balsa de ida e
volta para o trabalho. Desciam do metrô diretamente para o prédio e nunca
ousavam vagar pelas ruas de Manhattan em torno dele. Estudantes da Columbia
eram aconselhados a nunca ir a pé para o sul da rua 110, e é claro que nunca
acima da 125, entrando no Harlem. Escolares de outros condados eram trazidos em
ônibus praticamente debaixo de guarda até o Metropolitan Museum, passavam
depressa, em grupo, pelas vastas coleções e eram levados diretamente para casa
em Five Towns, Long Island. Darryl Pinckney, o grande romancista e crítico
negro, descreve como, ao andar por uma rua, para tranquilizar uma mulher branca
sozinha que ia à sua frente, ele brandia seu exemplar de Heidegger, mas não
adiantava. Mesmo assim ela olhava para trás, entrava em pânico e quase saía
correndo.”
Edmund
White, “City Boy – Minha Vida em Nova York” (p. 233-4)
Se Nova York (EUA) era assim e conseguiu vencer a criminalidade, Limeira também pode. O Brasil também pode!
Repare que, no relato do escritor, há uma relação direta entre a insegurança vigente décadas atrás na cidade e o estado de abandono de algumas áreas e serviços públicos.
Por isso defendo a tese - materializada em Nova York pelo programa "Tolerância Zero" e em ações semelhantes em Cali, Medellín e Bogotá, na Colômbia - de que só a intervenção e a presença do Poder Público poderão mudar a realidade de áreas degradadas seja pela falta de infraestrutura e/ou pelo crime.
Em tempo 1: ao menos em Limeira, o prefeito eleito Paulo Hadich (PSB) compartilha da mesma ideia. Há, pois, esperança.
Em tempo 2: a foto que ilustra esta postagem foi feita em Nova York em abril deste ano. Ao contrário do que ocorria antes, segundo o relato de White, a coleta de lixo na cidade agora é regular - e feita à noite para não prejudicar o movimento turístico e econômico.
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