Deu no
jornal: "O governo anunciou um pacote de medidas destinadas a controlar a
criminalidade. Entre elas, figuram um reforço dos efetivos da polícia e o
lançamento de uma nova estratégia, baseada na inteligência e em uma cooperação
estreita entre forças da ordem e a magistratura para lutar contra o tráfico de
drogas".
Estamos
falando de São Paulo? Não. A notícia refere-se a Marselha, onde ocorreram 17
assassinatos este ano, mais seis no seu entorno, poucos para o padrão
brasileiro, insuportáveis para os franceses.
Reproduzo a
notícia apenas para sublinhar uma coisa que deveria ser óbvia: o aumento da
violência, em geral associada ao narcotráfico, não é um fenômeno exclusivamente
paulista ou brasileiro.
Está se
tornando uma praga em incontáveis países. Por isso mesmo, demanda um nível de
cooperação entre as diversas instituições do Estado que, até faz pouco, não era
nem tão relevante nem tão urgente.
Essa
obviedade torna incompreensível a relutância do governo de São Paulo, só agora
vencida, em aceitar a ajuda oferecida pelo Ministério da Justiça.
Segundo o
"Painel", lideranças tucanas explicam a relutância com base em uma
tola teoria da conspiração: o governo federal estaria querendo desconstruir a
política de segurança de São Paulo, para arrebatar o governo dos tucanos em
2014.
O que
desconstrói qualquer política de segurança é o aumento da violência, não uma
ação conjunta que eventualmente a reduza.
Custa a crer
que se torne necessário escrever tão tremenda obviedade, mas a culpa é da
indigência do debate público no Brasil, em grande medida transformado em um
Fla-Flu de baixo nível entre petistas e tucanos.
Vale
acrescentar que a eficaz cooperação União/Estado no Rio de Janeiro não deu um
só voto ao PT, em processo de liquefação no Estado, mas encheu a burra do
governador Sérgio Cabral e do prefeito Eduardo Paes (ambos do PMDB).
Se o
tucanato ainda tem dúvidas, pergunte a Teotônio Vilela, governador do partido
em Alagoas, se ele também não deve parte da reeleição em 2010, após um início
desastroso, à cooperação Estado/União na área de segurança, que reduziu a
criminalidade até em Arapiraca, epicentro de tremendo faroeste.
A proposta
do Ministério da Justiça faz todo o sentido: criar uma força-tarefa que ataque
a criminalidade por todos os ângulos.
Pela força,
com as polícias Civil e Militar de São Paulo e a Federal, pela inteligência
(dessas polícias mais a Agência Brasileira de Inteligência), pelo lado
financeiro, por meio da Receita Federal, mais o Ministério Público e o
Judiciário.
No limite,
segundo o Ministério da Justiça, seria utilizado também o Exército.
Detalhe: em
Marselha, a senadora socialista Samia Ghali está igualmente propondo usar o
Exército para pôr fim ao banho de sangue.
Em vez de
relutar, o governo paulista deveria é cobrar do federal que a força-tarefa saia
já do papel, e não fique no velho truque político de criar um grupo de trabalho
quando não se sabe como resolver um dado problema.
Fonte:
Clóvis Rossi, “São Paulo na guerra global ao crime”, Folha de S. Paulo, Mundo,
4/11/12.
0 comentários:
Postar um comentário