Um dos mais respeitados veículos de comunicação de São Paulo, o Jornal da Tarde deixa de circular a partir desta quarta-feira, 31 de outubro, após 46 anos de história. O diário ilustrou a capa de sua edição de despedida com uma foto tirada do terraço do edifício Itália, um dos cartões-postais da cidade, e a frase "Obrigado, São Paulo".
Em editorial intitulado "O JT sai de cena", o jornal ressaltou seu papel na renovação da comunicação brasileira. "Desenhado para chegar às bancas no início da tarde, o JT pôde, na primeira metade de sua vida, dar-se ao luxo de funcionar na velocidade das ideias e concentrar-se com o necessário vagar no tratamento dos fatos, na avaliação do seu significado e na sua apresentação em imagens e palavras nunca antes tão cuidadosa e competentemente trabalhadas na história da imprensa brasileira", lembrou.
Conforme já havia anunciado em comunicado oficial distribuído no início desta semana, o Grupo Estado decidiu suspender as operações do JT por decisões estratégicas, passando a concentrar seus investimentos unicamente no jornal O Estado de S. Paulo. Para o diretor-presidente da empresa, Francisco Mesquita Neto, "ao longo dessas quase cinco décadas, o 'JT' foi polo de inovação e criatividade (...) com seus premiados jornalismo e design gráfico, influenciou gerações de leitores e de profissionais da comunicação, com uma grande contribuição ao jornalismo brasileiro. É uma missão cumprida".
(...) Em comentários na internet, blogueiros e jornalistas manifestaram pesar pelo fim do Jornal da Tarde. Mino Carta, idealizador do JT e atual diretor da revista Carta Capital, lamentou a notícia, em entrevista ao portal UOL. "A morte de um jornal sempre me entristece, mas, neste caso específico, eu devo dizer que me entristece em dobro, talvez ao cubo, pois foi um jornal que nasceu por obra que uma equipe que eu comandei".
"Nós revolucionamos, tanto na paginação quanto no texto. Acreditávamos que o jornalismo era uma forma de literatura, coisa que se perdeu no jornalismo brasileiro. Achávamos que a investigação era fundamental, que reportagens bem trabalhadas e profundas eram fundamentais para o êxito do jornal", acrescentou.
(...) Para o jornalista Mauro Cezar Pereira, o fim do JT é um indício da falta de sintonia entre o papel dos jornais e os novos tempos. "Não sei se a web vai 'matar' o jornal impresso. Sei que a notícia no papel precisa ser apresentada de outra forma, o enfoque não pode continuar frio, burocrático. E isso é urgente. Hoje, por exemplo, Folha e Estadão deram como manchete que Haddad é o novo prefeito de São Paulo. É que podemos chamar de notícia velha", comentou.
Fonte: Natalia Mazotte, "Jornal da Tarde, que revolucionou a imprensa de São Paulo nos anos 70, deixa de circular", blog Jornalismo nas Américas, Knight Center for Journalism in the Americas, 31/10/12.
sexta-feira, 2 de novembro de 2012 | Postado por Rodrigo Piscitelli às 21:44 |
A morte de um jornal (e o futuro dos jornais)
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