O recente sucesso econômico
brasileiro é uma grande obra do acaso. A afirmação é do economista Ricardo
Amorim. Formado pela USP (Universidade de São Paulo), com pós-graduação em
Paris (França), ele esteve em Limeira no último dia 12 para uma palestra. Ele abriu
sua fala enumerando as razões pelas quais o Brasil não poderia, em tese, dar
certo:
1) tem uma “educação que não ensina”, ocupando o 53° lugar entre 65 países no Pisa
(Programa Internacional de Avaliação de Alunos);
2) possui uma “saúde que não
salva” e, pior, “às vezes ela mata”. “Mata gente e mata empresas”, já que o
setor privado é obrigado a pagar o SUS (Sistema Único de Saúde) via tributos e planos
particulares para os trabalhadores;
3) a infraesteutura é
“decrépita”. “Um pouquinho de infraestrutura em volta de muito buraco”,
afirmou;
4) a carga tributária é elevada, somando R$ 1,3 trilhão hoje. Segundo ele, de 156 países emergentes, só em três se paga mais impostos do que no Brasil;
5) a burocracia é grande. “É que nem futebol. O Brasil não inventou nenhum dos dois, mas aperfeiçoou ambos”, comentou;
6) a corrupção é elevada, atingindo um valor estimado de R$ 100 bilhões.
Por que, então, o Brasil
começou a dar certo apesar de todos os problemas? “Não é por mérito, é por
sorte, mas não interessa. Sorte faz parte do jogo igualzinho”, disse Amorim. E
qual a origem da sorte? A China. Ou melhor: 400 milhões de desconhecidos
chineses que saíram do campo rumo à cidade e, ao fazerem isso, “viraram o mundo
de cabeça para baixo”.
Para se ter uma ideia, foi
preciso construir moradias para toda essa gente. Enquanto no Brasil (onde a
construção civil está aquecida) o consumo per capita de cimento soma 350
quilos, na China ele atinge 1,6 mil quilos. Em nada menos que 80 cidades
chinesas há obras de metrô, só para ficar em um exemplo.
A expansão chinesa fez os
produtos importados ficarem mais baratos. Como exemplo, o preço de uma TV caiu
20 vezes. Já o valor do petróleo subiu dez vezes. Ficou mais barato para o
Brasil importar produtos industrializados e melhor para vender seus produtos –
notadamente matérias-primas e artigos agrícolas.
Com o aquecimento da
economia, nos últimos cinco anos 500 mil brasileiros que viviam no exterior
voltaram ao país. Já 550 mil estrangeiros entraram no Brasil no ano passado
para trabalhar de modo legalizado (fora os ilegais). Na década, o país gerou 17
milhões de empregos. Só para se ter uma ideia, nos Estados Unidos houve queda
de um milhão de vagas no período, enquanto a população norte-americana cresceu
30 milhões de pessoas.
Em resumo, o Brasil está
atraindo talentos, vendendo caro e comprando barato. “Sem termos feito
absolutamente nada acabamos ficando muito mais ricos”, falou Amorim.
Com a experiência de quem
atua no mercado financeiro desde 1992, com passagens por Paris, Nova York (EUA)
e São Paulo, ele data a sacudida econômica no mundo: dezembro de 2001. Foi
quando a China entrou na OMC (Organização Mundial do Comércio). Desde então, as
maiores economias mundiais – Japão, EUA e Europa - tiveram crescimento médio de
1,1%, metade do registrado nos 30 anos anteriores.
A demografia nestes países
também é um problema sério: a população envelhece, crescem os gastos públicos
com aposentadorias e diminuem as receitas, já que há menos gente contribuindo.
No Brasil, ao contrário, há
menos crianças do que décadas atrás e o país ainda não tem muitos idosos
(embora esta seja uma população crescente). Ou seja: do ponto de vista
demográfico, o país vive o melhor momento. Não é à toa que o PIB (Produto
Interno Bruto) brasileiro cresceu 4,3% em média nos últimos oito anos, mais que
o dobro do registrado entre 1979 e 2003.
A situação em alguns países da Europa beira o desespero. A Grécia está no sexto ano seguido de recessão - algo inédito no mundo desde 1940 (fora o período da guerra). No país, 58% dos jovens não têm emprego. Sem renda, sem emprego e sem crédito não há consumo. A saída para a Grécia é exportar, disse o economista, mas aí entra o problema do euro.
O Brasil, ao contrário, está
diante de uma série de oportunidades: sediará grandes eventos (Copa de 2014 e
Olimpíadas de 2016 no Rio), tem o pré-sal e o “know-how” na área de alimentos
(o país possui 40% da área mundial disponível para plantações). Também recebe investimentos
crescentes em infraestrutura e assiste à ascensão da classe C, que já soma 103
milhões de pessoas.
Aliás, não é por acaso que a
Fifa (Federação Internacional de Futebol) escolheu como sedes das Copas a
África do Sul em 2010, o Brasil em 2014, a Rússia em 2018 e o Catar em 2022. Todos
países no topo da lista dos emergentes. Sim, a Copa é um grande negócio.
Amorim - que é colaborador do
programa “Manhattan Conection”, do canal Globo News, desde 2003 – lembra que se
a ascensão de 400 milhões de chineses revolucionou o mundo, há outros 300
milhões para seguirem o mesmo caminho (deixar o campo rumo às cidades). “E
depois tem a Índia”, onde a população deve ter destino semelhante, citou.
Não é à toa, disse o
economista, que 93% do dinheiro com lastro no mundo atualmente está nos países emergentes.
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