Bar, Belo Horizonte, 2009. Uma mineira
está paquerando meu amigo, um norte-americano vindo de Nova York. Quando ela se
vira brevemente para as amigas, eu aproveito para dar um conselho urgente.
"Você precisa beijá-la",
insisti. "Daqui a cinco minutos ela vai achar que você não gosta
dela."
"Aqui?", respondeu ele.
"Na sua frente? De jeito nenhum!" E não beijou mesmo. Mais tarde, a
mineira me diria: "Seu amigo me esnobou."
Como jornalista, já estive em muitos
países. O Brasil é de longe o país do mundo onde as pessoas mais se beijam em
público. Para um estrangeiro, chega a ser difícil entender essa característica
da cultura local. Beijar alguém com amigos ao lado vendo tudo? Nossa, nem
pensar. Sério, meu amigo não esnobou ninguém.
Ele estava acostumado com o padrão
americano: conversar, pegar o telefone, ligar, jantar, evitar pratos com alho
porque talvez vá beijar - mas talvez não. Se for, que seja em um cantinho
escuro ou após um "vamos para outro lugar". O padrão brasileiro é
outro: gostou, beijou.
Como visitante, morador ou
"beijador", conheço o Brasil há anos. (Primeiro beijo: no dia 15 de
agosto de 2004, com uma dançarina de forró em Manaus.) Não acho que algum dos
"sistemas" seja melhor, mas como são diferentes...
Infelizmente, muitos dos meus amigos ou
conhecidos americanos de fato viajam ao Brasil com o preconceito de que vão
arranjar facilmente várias mulatas. Quando descobrem que não conseguem dominar
o jeito de paquerar brasileiro, ficam aterrorizados com a ideia de voltar sem
histórias para contar.
Neste ano, acompanhei dois amigos
americanos no Carnaval de São Luiz do Paraitinga (SP). Eu sempre tento dar uma
aulinha de como agir, mas ainda assim meus amigos ficaram impressionados com a
persistência dos brasileiros em soltar cantadas constantes - frequentemente,
com uma insistência e certa agressividade que a um americano parecem bastante
descabidas, mas que pelo visto funcionam.
Muitos dos nossos compatriotas, nos EUA,
desistiriam após o primeiro sinal de "não" ou nem tentariam algo com
moças que não conhecem. Pelos padrões americanos, poderiam até encarar a
convicção dos homens brasileiros como assédio sexual.
Meus amigos estranharam bastante, mas um
deles até que pegou o jeito e provavelmente jamais vai esquecer uma certa
loira. (E, no dia seguinte, quando, já mais ambientados, nos vestimos de bebês
para um bloco, esse meu amigo também fez grande sucesso - só que, no caso, com
homens que paqueravam e davam tapas na fraldinha dele.)
Além do beijo e dos tapas na fraldinha
no Carnaval de Paraitinga, há outras diferenças entre as culturas.
Sempre achei esquisito que casais
brasileiros, quando saem com amigos ou para uma festa, nunca se soltam. No meu
país, o casal pode chegar junto, mas se separa para socializar. Num restaurante
pode até não sentar ao lado do parceiro, ideia que alguns brasileiros acham
bizarra.
O brasileiro explica isso assim:
"Nos somos mais carinhosos do que vocês". O gringo explica de outra
forma: "Não, vocês são possessivos e ciumentos". A verdade, acho, tem
um pouco das duas coisas.
Anos atrás, fui a um almoço com uma
namorada brasileira e um grupo de amigos. Apesar de estar sentado ao lado dela,
passei o tempo conversando com o amigo do lado. Ela, conversando com a mulher
do lado dela. Todo mundo feliz, achei.
Depois, ela me deu uma grande bronca. Eu
a tinha deixado "sozinha". Pedi desculpas, mas por um tempo fiquei
perplexo. E caiu a ficha: eu precisava de um braço brasileiro.
É o seguinte: eu sempre serei
norte-americano. Mas quando namoro uma brasileira, um dos meus braços vira
brasileiro. O braço brasileiro se dedica a pegar a mão da menina, tocar o
braço, fazer cafuné. O resto do corpo é liberado para ser americano.
Funciona. Às vezes até tão bem que
consigo evitar o beijo em público, na frente dos amigos. Só às vezes.
Fonte: Seth
Kugel, “Paquerar como um brasileiro”, Folha de S. Paulo, Opinião, 12/11/12, p. 3.
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