É inacreditável
e inaceitável ler em pleno fim de 2012, num certo tom eufórico, que os governos
de São Paulo e do Brasil acertaram uma parceria para combater a onda de violência
que atinge o principal estado do país.
Mais ainda: é
chocante constatar que os dois governos anunciaram, em pleno 6 de novembro de
2012 – ou seja, no século 21 – um acordo para troca de informações de inteligência
na área de segurança. Isto se dará por meio da criação de uma agência integrada
reunindo representantes de órgãos estaduais e federais.
“A ação da
agência fará com que as iniciativas das polícias sejam integradas. Não se
combate o crime organizado sem um sistema inteligente”, disse o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.
Em tom
laudatório, o ministro falou o que qualquer pessoa minimamente informada sobre
as questões da segurança sabe há décadas.
Ou seja: foi
preciso que São Paulo (a região metropolitana da capital mais especificamente) veja-se
numa verdadeira guerra civil - com o recorde de 90 assassinatos de policiais e
um aumento de 86% nos crimes contra a vida - para que o ministro da Justiça e o
governo estadual decidam integrar as ações de combate ao crime organizado e
trocar informações de inteligência.
É um
verdadeiro absurdo que isto ainda não tivesse ocorrido – como não ocorreu ainda
na maioria dos estados brasileiros.
Como se pode
pensar em combater com um mínimo de eficácia e eficiência o crime dito
organizado se os atores responsáveis por isso (ou seja, os governos municipais,
estaduais e federal) não dialogam e não agem conjuntamente salvo em ocasiões
especiais?
É inconcebível,
por exemplo, que um foragido da Justiça paulista não tenha contra si um mandado
de prisão válido em Minas Gerais ou qualquer outro estado. É inconcebível que
em pleno século da tecnologia não exista um sistema nacional de presos, com as
fichas criminais acessíveis em todos os estados e disponíveis para os judiciários
e as polícias estaduais.
Assistir à
reunião – excepcional, registre-se – entre o governo de São Paulo e o Ministério
da Justiça para discutir segurança pública sendo enaltecida é chegar a uma
conclusão óbvia: não podem ser sérios aqueles que negligenciam as questões da
segurança desta forma a ponto de ser necessária uma matança generalizada para
algo ser feito.
Algo - a
reunião, a integração, o diálogo - que, frise-se, deveria ser praxe há pelo
menos duas décadas.
Talvez isto ajude
a explicar a atual situação da criminalidade não só em São Paulo como de resto
em todo o Brasil.
Quando vão
levar o assunto efetivamente a sério?
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