No final dos anos
Estou contando esta breve história em razão de uma notícia
que li nos portais. A Portuguesa, tradicional clube paulistano, está lançando uma camisa para homenagear um gol antológico feito pelo meia-atacante Dener, um
dos craques da história da equipe.
Foi numa noite de 14 de novembro de 1991, véspera de feriado,
no Canindé, o estádio da Portuguesa, às margens da Marginal Tietê, em frente ao
Shopping Center Norte. A partida valia pelo quadrangular semifinal do
Campeonato Paulista. O grupo tinha, além da Lusa, o Corinthians, o Santo André
e a Internacional de Limeira.
Era a segunda rodada. Jogavam Portuguesa e Inter. Os dois
times precisavam da vitória. O tempo corria e o placar apontava um empate sem
gols. O jogo se aproximava dos 40 minutos da etapa final quando a equipe de Limeira
teve um escanteio a seu favor. Eis que a bola sobrou para Dener pouco além da
entrada da grande área da Portuguesa. Um passe vindo da direita. Ele dominou,
driblou um, dois, três, quatro, cinco – incluindo o famoso drible da vaca no
zagueiro Lica.
Aquilo parecia inacreditável. Mágico. Super-humano. Do além.
Quando restou o último jogador da Inter, viu-se uma tentativa em vão de um
carrinho quase criminoso para derrubar o meia-atacante. E aí a tensão: será que
Dener conseguiria fazer o gol? Sim, ele conseguiu. Os “deuses” do futebol não
permitiriam outro final para aquele momento. Um verdadeiro gol de placa,
lembrado mais de duas décadas depois.
Na arquibancada, a pequena torcida lusa foi à loucura. Nos
camarotes, a “portuguesada” (como eu costumava me referir aos carrancudos
portugueses diretores da Lusa) pulava eufórica. Os diretores trocavam abraços,
gritavam, aclamavam o craque do time: “Ele é um gênio!”, diziam – com razão,
admitíamos forçosamente os torcedores da Inter.
Naquele dia, após o jogo, algumas pessoas abordaram o
zagueiro Lica questionando a razão dele não ter cometido uma falta em Dener
para barrar a jogada – e, consequentemente o gol e a derrota que, àquela
altura, praticamente eliminava a Inter da disputa. Ele temeu levar o cartão
vermelho e ser expulso. Havia, ainda, a esperança do atacante fracassar ou do
goleiro barrá-lo. Enfim, milionésimos de segundo para tomar uma decisão.
A derrota da Inter nos entristeceu. Pensando com a distância
e a frieza do tempo, porém, como foi bom Lica não ter derrubado Dener. E a
tentativa de um carrinho criminoso não ter passado disso, uma tentativa. O
jogador merecia aquele gol. O futebol merecia aquele gol.
Foi, sem dúvida, o gol mais bonito que eu já vi em toda a
vida. Porque sim, eu estava lá naquela noite no Canindé.
“Meninos, eu vi!”
PS: infelizmente, as imagens disponíveis na Internet
referentes a este gol não mostram o brilho de toda a jogada, desde o escanteio.
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