Descubro, em algum escaninho virtual, uma espécie de carta que escrevi, faz alguns anos, para um estudante de jornalismo imaginário. A carta seria parte de um manual de jornalismo que nunca foi publicado:
A primeira obrigação do jornalista é ser claro e objetivo. Aos fatos, pois:
1 - Se, depois de tantos anos de convivência em redações, eu fosse convocado a dar um “conselho” a uma turma de recrutas do jornalismo, diria simplesmente: em nome de todos os santos, por favor, please, s`il vous plâit, não percam nunca a capacidade de se espantar diante dos fatos. Vejam tudo com os olhos curiosos de um menino descobrindo a maravilha do mundo. O olhar faz toda a diferença. É o que distingue um jornalista burocrata de um jornalista interessante. Não existe assunto chato: o que existe é jeito chato de tratar de um assunto.
(...)
3 - O jornalista pertence a uma categoria especialíssima: de tanto conviver com fatos extraordinários, ele corre o risco de um achar tudo “normal” e “ordinário”. Neste momento, ele se transforma naquele sujeito entediado que, para o bem do Jornalismo, deveria estar exercendo outra profissão. Cuidado para não se transformar num desses inimigos da notícia. Parece incrível, mas existem, às pencas, nas redações.
(...)
7 - Seja saudavelmente pretensioso. Faça a si mesmo uma pergunta antes de resmungar porque foi escalado para entrevistar uma celebridade que já deu mil entrevistas: quem sabe se, na milésima primeira entrevista, eu não consigo arrancar uma história nova, uma declaração inédita, um detalhe que ninguém conhece? Não jogue fora a notícia antes de tentar.
8 - Fazer bom jornalismo é dar, ao leitor, ouvinte ou telespectador, uma informação que ele não conhecia. Tente ser o porta-voz da novidade.
9 - Ainda não inventaram uma fórmula mágica. A velha regra vale para todos os filhos de Deus: só escreve bem quem lê muito. Ponto final. Revogam-se as disposições em contrário. Cansei de ver nas redações: nem todo mundo que lê consegue ter um texto claro, límpido e atraente. Mas, invariavelmente, quem não lê não sabe escrever. Os maiores absurdos que já li foram escritos por gente que sofre de bibliofobia – horror a livro. Preferem ler revista de celebridade na sala de espera do dentista. (...)
Fonte: Geneton Moraes Neto, "Dez coisas que aprendi sobre ela, a profissão de Jornalista", blog Dossiê Geral, 8/11/12.
quinta-feira, 29 de novembro de 2012 | Postado por Rodrigo Piscitelli às 05:00 |
Jornalismo: as lições do professor Geneton
Marcadores: Geneton, jornalismo, profissão
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