Fixadas pelo Supremo Tribunal Federal as
penas que recaem sobre os principais acusados do mensalão, o julgamento de um
dos maiores escândalos da história republicana vai chegando ao seu desfecho.
A compra de votos de parlamentares, com
recursos desviados do patrimônio público, foi capitaneada pelo principal
auxiliar do presidente Lula, o então ministro José Dirceu. Na sessão de ontem
do STF, sua punição por formação de quadrilha e corrupção ativa, ainda sujeita
a ajustes, foi estipulada em dez anos e dez meses de prisão, a ser cumprida
inicialmente em regime fechado.
Não é o caso de celebrar, com espírito
vindicativo, a decisão do tribunal. Haverá motivos para comemorar o resultado
do julgamento apenas se, no futuro, o rigor e o cuidado que o presidiram se tornarem
corriqueiros, e não, como ainda acontece, fatos excepcionais na política do
país.
Um país em que a indignação dava lugar
para o conformismo e em que todo escândalo estava destinado à impunidade e ao
esquecimento - talvez esse país comece a ser outro, a partir de agora.
Até pelo ineditismo das circunstâncias,
não se pode deixar de observar que o julgamento se deu com alguma dose de
improviso. Não havia clareza quanto ao que fazer, por exemplo, no caso de
empate entre os magistrados. Foi a meio caminho que se fixaram, ademais,
critérios quantitativos para aumentar a pena dos condenados quando o mesmo
delito se repetia várias vezes.
As discussões entre os ministros, que
frequentemente extravasaram os contornos da serenidade que se espera de um
tribunal superior, foram entretanto evidentes demonstrações de que a decisão se
deu num clima de liberdade absoluta, com amplo espaço para a divergência.
Um julgamento minucioso, que resulta em
condenações fundamentadas solidamente em nexos fatuais e lógicos, expôs-se dia
a dia pelas câmeras de TV.
Culminou-se o trabalho do Ministério
Público, da Polícia Federal e das CPIs que, deflagrado por revelações da
imprensa crítica, desvendou uma das mais complexas e nefastas tramas criminais
já urdidas nos bastidores do poder. Outros casos, a começar pelo das relações
de Marcos Valério com o PSDB de Minas Gerais, terão de ser examinados sem
demora.
Não será num dia que se banirá a
impunidade da política brasileira, mas emergiram, como nunca, as condições para
que isso aconteça.
Fonte: "Folha de S. Paulo", Editorial, 13/11/12, p. 1.
Leia também:
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