(...) Não há mais dúvidas de que o modelo convencional de negócios das empresas jornalísticas é inadequado para a produção de notícias na internet. Desde o surgimento deste Código Aberto, há oito anos, alertamos que a Web inverteu as regras do mercado de notícias. Passamos de uma era de escassez (poucos jornais) para uma era de abundância informativa (só de blogs são 55 milhões no mundo inteiro), o que reduziu a commodity notícia a quase zero ao mesmo tempo em que acelerou a diversificação e recombinação de dados e informações graças às facilidades das redes virtuais.
A notícia está hoje em todos os lugares e cercá-la com os muros do direito autoral equivale a tentar enxugar gelo. A rentabilidade não está mais em guardá-la como uma commodity, mas na sua circulação. Quanto mais uma notícia circular mais pupilas e cérebros ela alcançará, ampliando a reputação de quem a produziu, distribuiu e comentou. Ter informação não é mais sinônimo de ter poder. Pelo contrário, o poder de influenciar outras pessoas depende da intensidade com que a informação circular entre estas pessoas.
(...) A decisão da ANJ responde ao interesse de executivos da indústria da comunicação jornalística de arrancar toda a rentabilidade possível antes que chegue um momento fatal, como ocorreu há dias com a revista norte-americana Newsweek, que aqui no Brasil foi o modelo seguido pela Veja. Para os executivos pode ser uma estratégia inteligente para garantir uma aposentadoria dourada, mas para nós, consumidores de informações, é uma péssima notícia.
Fonte: Carlos Castilho, "Jornais vs. Google: a briga que ninguém ganha", Observatório da Imprensa, Código Aberto, 23/10/12.
(...) Além da exigência de remuneração financeira, há na decisão da ANJ também uma disputa por poder na cadeia de valor da indústria jornalística, na opinião do jornalista Eugenio Bucci, professor da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). "Com o surgimento dos buscadores e agregadores de notícias na internet, os jornais perderam parte importante dessa cadeia de valor. Acho que a movimentação de sair de um serviço de busca é uma tentativa de dominá-la novamente", explica Bucci.
No caso de um jornal impresso, a empresa é dona da totalidade da cadeia de valor - da produção da notícia à entrega da publicação aos leitores. Na internet, para o conteúdo chegar ao leitor, parte desse valor fica com a indústria de telecomunicações, com a indústria de computadores e, mais recentemente, também com os intermediários como o Google.
"A questão é como vai ser remunerado o jornalismo independente", sintetiza Bucci. "(A saída dos grandes jornais do Google Notícias) pode ser um movimento infeliz, que se mostrará errado daqui a algum tempo". Mas, como ainda não há um modelo que garanta essa remuneração em longo prazo, as redações independentes têm que preservar o valor do que oferecem. No cenário que está se formando, uma matéria do New York Times acaba tendo o mesmo valor de uma matéria produzida por uma organização partidária", compara o jornalista.
Fonte: Isabela Fraga e Natalia Mazotte, "Boicote ao Google News resultou em queda de apenas 5% do tráfego na web, afirmam jornais brasileiros", Blog Jornalismo nas Américas, Knight Center for Journalism in the Americas, 25/10/12.
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