Pesquisa da
Faculdade de Educação da USP mostrou que quase metade dos alunos que ingressam
nos cursos de licenciatura em física e matemática da universidade não estão
dispostos a tornar-se professores. O detalhe inquietante é que licenciaturas
foram criadas exatamente para formar docentes.
A dificuldade é
que, se os estudantes não querem virar professores, fica difícil conseguir bons
profissionais e, sem eles, o sistema de ensino brasileiro seguirá colecionando
fracassos.
Embora exista
muita polêmica sobre o que funciona ou não em educação, não há dúvida de que a
qualidade do professor é fundamental. Trabalho de 2007 da consultoria McKinsey
comparou sistemas de educação de todo o mundo e concluiu que o elemento de
maior destaque nas redes de excelência era a capacidade de "escolher as
melhores pessoas para se tornarem professores".
Na Coreia do Sul,
por exemplo, os futuros mestres são recrutados entre os 5% de alunos com notas
mais altas no equivalente ao vestibular. Na Finlândia, os docentes são selecionados
entre os "top ten". Por aqui, segundo levantamento de 2008 da
Fundação Lemann, apenas 5% dos melhores alunos do ensino médio pensam em
abraçar o magistério. Ser professor no Brasil se tornou a opção dos que não têm
melhores opções.
Resolver essa encrenca
é o desafio. Salários são por certo uma parte importante do problema, mas
outros elementos, como estabilidade na carreira e prestígio social, também
influem. O tratamento quase reverencial que a sociedade coreana dispensa a seus
mestres ajuda a explicar o sucesso educacional do país.
Essas
considerações tornam difícil a situação do Brasil, que precisa transitar de um
modelo em que os piores alunos viram docentes para um que prime pela
excelência. E, como o deficit de professores já é enorme (200 mil só na área de
exatas), teremos de achar um jeito de trocar o pneu com o carro em movimento.
Fonte: Hélio
Schwartsman, “Encrenca educacional”, Folha de S. Paulo, Opinião, 13/10/12, p. 2.
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