“Faça perguntas do fundo do seu coração, que elas serão
respondidas pelo fundo do seu coração.”
Antigo provérbio navajo (p. 24)
Altas horas. Terminei há pouco a leitura de “Os
imperfeccionistas”, história de jornal e jornalistas com passagens por Atlanta
– sempre ela. Já engatei nova leitura, com “Fé na Estrada”. Página 37, 3h44.
Tenho que parar. A aventura me despertou paixões.
Preciso escrever. Paixão – escrever. Escrever, escrever, escrever.
Hesito em ligar o iPad (é horrível digitar num tablete! – e pensar que eu o
comprei justamente para escrever de madrugada...). Hesito em ligar o notebook. Preciso
escrever à moda (quase) antiga: preciso do quarto de escrever, hamm, o
escritório. Preciso do velho e barulhento teclado. Preciso da poltrona de couro
preto, confortável, de 150 reais, para refestelar-me.
Enquanto espero a geringonça ligar, aciono duas vezes o
souvenir de São Francisco só para ver os pontinhos brilhantes caírem por sobre
a miniatura da Golden Gate, "golden" embora alaranjada. Sinal de entusiasmo. Paixão –
escrever e viajar.
“Fé na Estrada” é inspirado no clássico “Pé na Estrada”, ou
“On the Road”. Quando o vi na prateleira da livraria, não tive dúvidas. Sabia
que iria mexer comigo. Não imaginei, porém, que fosse tão brevemente e de modo
tão intenso. Escrita alucinante sobre uma viagem sonhada.
“Quando a gente procura alguma coisa, encontra de tudo,
menos o que a gente procura.” (p. 37)
Estou assim nos últimos tempos. Procurando, procurando – e cada
vez menos encontrando. Mais que isto: procurando, procurando – e cada vez mais
perdendo. Perdendo coisas preciosas. “Pé na estrada!”... “Fé na estrada!”
Paixão – escrever e viajar e sonhar.
“(...) ao voltar para a casa de Laura, em estado
satisfatoriamente lamentável, me perdi algumas vezes no caminho e me arrastei
pelas ruas balbuciando: ‘Esquece o pé, tenho que ir para o coração, meu pé está
seguro, tenho que ir para o coração!’, e não parava de repetir que tinha que ir
para o coração (...)” (p. 35-6).
Como no dia em que me deparei – nos deparamos – com flocos
de neve caindo na noite escura e fria e envolvente e mágica. “Snow flakes! Snow flakes!” Gritos alucinados, sem alucinógenos, mas sob efeito de bebida.
Santa bebida! Blasfêmia?!
Paixão – escrever e viajar e sonhar e beber com um amigo.
Hoje já não posso mais. Não agora. Nesta madrugada em que o sono
não veio (por que, afinal, ele sempre falta comigo?), quase sem paixão
(escrever?), com paixões despertas (viajar e sonhar e beber com um amigo).
E não há viagem nem sonho nem amigo...
“A princípio, optei por ignorar a paisagem e seguir
sonhando. Acho que todo mundo faz isso com suas vidas.” (p. 37)
PS: um dia, espero, poderei unir todas estas paixões –
escrever e viajar e sonhar e beber com um amigo, um amigo-irmão, com “fé na estrada” e “on the
road”.
* As citações desta postagem foram todas retiradas do livro “Fé
na Estrada”, de Dodô Azevedo (Ed. Casa da Palavra)
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