segunda-feira, 15 de outubro de 2012 | |

A garotinha e o passarinho

Manhã de céu azul, sol, temperatura amena, típico dia de primavera se apresentando. No ar, o frescor da manhã aplumado pelo som sempre vibrante e entusiasmado da Orquestra Sinfônica de Limeira, desta vez na sua versão jovem. O espaço que um dia fora planejado para servir de palco para atrações culturais recebe a fina estampa da cultura local. Enfim, o patrimônio público encontrando o público.



Um som de rock emana com harmonia do conjunto de instrumentos manuseados com exatidão e paixão por homens e mulheres, jovens e adultos. Nas mãos do maestro, a batuta sobe e desce e faz giros rápidos e compassados, guiando os toques em violinos, clarinetas, saxofones e afins.

Na plateia, pais, filhos, casais apaixonados, gente solitária, todo tipo de gente. Gente com ouvidos atentos, olhos arregalados, coração aberto, alma leve. Gente que chega e que vai, que senta e que cai. Gente disposta a sorrir e a sonhar, gente vivendo.

Em meio à vida, a morte. A garotinha de vestidinho listrado, presilha nos finos fios de cabelo dourado, chega meio sorrateira e ágil carregando algo nas mãos. Fechadas e unidas, formando uma espécie de concha. Ou seria um ninho? Ou um leito de morte? Um pássaro jaz sem vida nas mãos da menina. Um filhote.

E a garotinha se aproxima, sorriso matreiro estampado no rosto, para no limite do chão pavimentado e atira o pequeno pássaro no gramado como se quisesse libertá-lo, como se quisesse dar-lhe um descanso final. A inocência das crianças... A garotinha não tem medo de trazer nas mãos um bicho morto. Talvez não saiba bem o que é a morte. Certamente não sente o que é a morte.

O pássaro fica ali atulhado de si mesmo, amorfo. E a garotinha sorrateira de sorriso matreiro e vestidinho listrado está apenas começando. Ela pega dois pequenos pedaços de pau, dois galhos, quase dois gravetos tão finos que são, e começa a mexer no filhote. Ela sabe que ele está morto. Ela sabe que ele está morto? Ela sabe que ele está morto! Garotinha marota...

E cutuca e vira e mexe. E nada. E volta a cutucar e a virar e a mexer. Sorri para a coleguinha maior que só observa desde que trouxeram a pequena ave para aquele lugar. O bicho, morto, ignora tudo. Não vê, não sente, não entende. A garotinha vê, não sente, entende. Ela e ele, a garotinha e o passarinho, são como as notas entoadas ao redor: sozinhos não formam nada; é preciso que interajam para constituir um algo.

No caso da garotinha e do passarinho, um algo sei-lá-o-quê. Uma graça, uma simples graça fruto da brincadeira inocente e corajosa de uma menina.

Já no caso das notas, um algo mágico e revigorante. Música de qualidade numa bela e ensolarada manhã de domingo.


PS: a Orquestra Sinfônica de Limeira volta a se apresentar no palco do Parque Cidade no próximo domingo, 21, a partir das 11h. Vale a pena!

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