Manhã de céu
azul, sol, temperatura amena, típico dia de primavera se apresentando. No ar, o
frescor da manhã aplumado pelo som sempre vibrante e entusiasmado da Orquestra Sinfônica
de Limeira, desta vez na sua versão jovem. O espaço que um dia fora planejado para
servir de palco para atrações culturais recebe a fina estampa da cultura local.
Enfim, o patrimônio público encontrando o público.
Um som de
rock emana com harmonia do conjunto de instrumentos manuseados com exatidão e
paixão por homens e mulheres, jovens e adultos. Nas mãos do maestro, a batuta sobe
e desce e faz giros rápidos e compassados, guiando os toques em violinos, clarinetas,
saxofones e afins.
Na plateia, pais,
filhos, casais apaixonados, gente solitária, todo tipo de gente. Gente com ouvidos
atentos, olhos arregalados, coração aberto, alma leve. Gente que chega e que
vai, que senta e que cai. Gente disposta a sorrir e a sonhar, gente vivendo.
Em meio à
vida, a morte. A garotinha de vestidinho listrado, presilha nos finos fios de cabelo
dourado, chega meio sorrateira e ágil carregando algo nas mãos. Fechadas e unidas,
formando uma espécie de concha. Ou seria um ninho? Ou um leito de morte? Um pássaro
jaz sem vida nas mãos da menina. Um filhote.
E a
garotinha se aproxima, sorriso matreiro estampado no rosto, para no limite do
chão pavimentado e atira o pequeno pássaro no gramado como se quisesse libertá-lo,
como se quisesse dar-lhe um descanso final. A inocência das crianças... A
garotinha não tem medo de trazer nas mãos um bicho morto. Talvez não saiba bem
o que é a morte. Certamente não sente o que é a morte.
O pássaro fica
ali atulhado de si mesmo, amorfo. E a garotinha sorrateira de sorriso matreiro
e vestidinho listrado está apenas começando. Ela pega dois pequenos pedaços de
pau, dois galhos, quase dois gravetos tão finos que são, e começa a mexer no
filhote. Ela sabe que ele está morto. Ela sabe que ele está morto? Ela sabe que
ele está morto! Garotinha marota...
E cutuca e
vira e mexe. E nada. E volta a cutucar e a virar e a mexer. Sorri para a
coleguinha maior que só observa desde que trouxeram a pequena ave para aquele
lugar. O bicho, morto, ignora tudo. Não vê, não sente, não entende. A garotinha
vê, não sente, entende. Ela e ele, a garotinha e o passarinho, são como as
notas entoadas ao redor: sozinhos não formam nada; é preciso que interajam para
constituir um algo.
No caso da
garotinha e do passarinho, um algo sei-lá-o-quê. Uma graça, uma simples graça fruto
da brincadeira inocente e corajosa de uma menina.
Já no caso
das notas, um algo mágico e revigorante. Música de qualidade numa bela e
ensolarada manhã de domingo.
PS: a
Orquestra Sinfônica de Limeira volta a se apresentar no palco do Parque Cidade
no próximo domingo, 21, a
partir das 11h. Vale a pena!
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