terça-feira, 2 de outubro de 2012 | |

Devaneios (escritos com fé e paixão)

“Faça perguntas do fundo do seu coração, que elas serão respondidas pelo fundo do seu coração.”
Antigo provérbio navajo (p. 24)

Altas horas. Terminei há pouco a leitura de “Os imperfeccionistas”, história de jornal e jornalistas com passagens por Atlanta – sempre ela. Já engatei nova leitura, com “Fé na Estrada”. Página 37, 3h44. Tenho que parar. A aventura me despertou paixões.

Preciso escrever. Paixão – escrever. Escrever, escrever, escrever. Hesito em ligar o iPad (é horrível digitar num tablete! – e pensar que eu o comprei justamente para escrever de madrugada...). Hesito em ligar o notebook. Preciso escrever à moda (quase) antiga: preciso do quarto de escrever, hamm, o escritório. Preciso do velho e barulhento teclado. Preciso da poltrona de couro preto, confortável, de 150 reais, para refestelar-me.

Enquanto espero a geringonça ligar, aciono duas vezes o souvenir de São Francisco só para ver os pontinhos brilhantes caírem por sobre a miniatura da Golden Gate, "golden" embora alaranjada. Sinal de entusiasmo. Paixão – escrever e viajar.

“Fé na Estrada” é inspirado no clássico “Pé na Estrada”, ou “On the Road”. Quando o vi na prateleira da livraria, não tive dúvidas. Sabia que iria mexer comigo. Não imaginei, porém, que fosse tão brevemente e de modo tão intenso. Escrita alucinante sobre uma viagem sonhada.

“Quando a gente procura alguma coisa, encontra de tudo, menos o que a gente procura.” (p. 37)

Estou assim nos últimos tempos. Procurando, procurando – e cada vez menos encontrando. Mais que isto: procurando, procurando – e cada vez mais perdendo. Perdendo coisas preciosas. “Pé na estrada!”... “Fé na estrada!”

Paixão – escrever e viajar e sonhar.

“(...) ao voltar para a casa de Laura, em estado satisfatoriamente lamentável, me perdi algumas vezes no caminho e me arrastei pelas ruas balbuciando: ‘Esquece o pé, tenho que ir para o coração, meu pé está seguro, tenho que ir para o coração!’, e não parava de repetir que tinha que ir para o coração (...)” (p. 35-6).

Como no dia em que me deparei – nos deparamos – com flocos de neve caindo na noite escura e fria e envolvente e mágica. “Snow flakes! Snow flakes!” Gritos alucinados, sem alucinógenos, mas sob efeito de bebida.

Santa bebida! Blasfêmia?!

Paixão – escrever e viajar e sonhar e beber com um amigo.

Hoje já não posso mais. Não agora. Nesta madrugada em que o sono não veio (por que, afinal, ele sempre falta comigo?), quase sem paixão (escrever?), com paixões despertas (viajar e sonhar e beber com um amigo).

E não há viagem nem sonho nem amigo...

“A princípio, optei por ignorar a paisagem e seguir sonhando. Acho que todo mundo faz isso com suas vidas.” (p. 37)

PS: um dia, espero, poderei unir todas estas paixões – escrever e viajar e sonhar e beber com um amigo, um amigo-irmão, com “fé na estrada” e “on the road”.

* As citações desta postagem foram todas retiradas do livro “Fé na Estrada”, de Dodô Azevedo (Ed. Casa da Palavra)

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