(...) No "outro lado", com frequência alarmante,
sou abordado por jornalistas que não têm a mínima ideia do que estão
perguntando e procuram, invariavelmente, apenas as aspas (como chamamos no
jargão jornalístico uma declaração) que possam causar um choque, um mal
entendido, e um consequente desconforto - obviamente induzido. Vejo isso
repetidas vezes - e não só comigo, mas em infinitas "reportagens" na
internet. Seria tudo muito válido, se um elemento não fosse constantemente
desrespeitado nesse ciclo feroz de notícias hoje em dia: a verdade.
(...) quando ouvi isso pela primeira vez, abri espaço para
falarmos de "verdadices" - minha tradução do termo que, se não me
engano, foi popularizado pelo comediante/apresentador americano Stephen
Colbert: "truthiness", algo que alguém acredita ser verdade não pelos
fatos apresentados, mas pela mera repetição da informação (ou, no caso,
desinformação). Esse é um fruto indigesto de uma cultura que consome cada vez
mais a própria informação sem nenhum critério para avaliar os detalhes que
absorve. Estamos, tristemente, mais e mais atolados na era da desinformação
descrita por Bill McKibben. E podemos sair desse cenário? Bem, Alain de Botton
acha que sim. Mas não sem transformações radicais - e, na minha avaliação,
praticamente impossíveis de serem alcançadas.
(...) Mas assim como o "mundo ideal" imaginado
pelo autor está longe (longíssimo) de existir, a estupidez que vemos
diariamente na internet - e que passa por notícia - é também uma ficção. Nesse
sentido, as palavras de Botton são um bálsamo para quem acredita que ainda é
possível reinventar uma sociedade baseada na verdade e na transparência.
No entanto, transparência é justamente algo que vemos cada
vez menos na informação de hoje. Blogs e twitters contribuem cada vez mais para
a confusão - e no meio de pequenos interesses, que só recompensam as más
fontes de desinformação (e nunca o leitor / ouvinte / telespectador / internauta),
só acrescentam ruído ao já cacofônico cenário do jornalismo. E nossa melhor
chance é torcer para que as pessoas fiquem cada vez mais atentas às armadilhas
da desinformação. (...)
Fonte: blog do Zeca Camargo, postado em 4/4/14.
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