“Noé” é um filme ruim. Ponto.
As licenças poéticas do diretor Darren Aronofsky são
primárias, extremamente inverossímeis (há verossimilhança possível em se
tratando da Bíblia?, diria um provocativo colega de trabalho ateu) e até risíveis
(os guardiões de pedra, por exemplo).
Feita a ressalva, o filme merece alguns comentários. Deixo
claro que não sou conhecedor de cinema, falarei apenas como mero espectador. “Noé”
me pareceu dogmático em demasia.
Fica clara (não de modo positivo e sim no sentido de
subestimar a inteligência do espectador) a intenção de transmitir a mensagem de
que o ser humano foi o responsável pela destruição do planeta uma vez e está
caminhando para o mesmo rumo. As lições de moral introduzidas nas falas do
personagem-título não deixam margem para dúvida tamanha a falta de sutileza dos
diálogos.
O filme se desenrola durante duas horas mediante este
propósito para tomar, no final, a previsível mensagem de esperança depositada
na raça humana. O homem é capaz de decidir pelo caminho “certo”. Temos uma
chance, ufa!
Mas se tudo é tão ruim, por que comentar o filme? Porque
algo salva “Noé” – e não se trata de Deus ou da arca propriamente. Em que pese
a primariedade dos diálogos, que atiram sem dó na cabeça do espectador as
intenções do discurso, “Noé” apresenta um interessante questionamento a
respeito “liberdade da vontade”, como chamou o filósofo Luiz Felipe
Pondé em artigo na “Folha de S. Paulo”.
Cabe a Noé, o personagem, decidir entre cumprir o que ele
julga ser a vontade – e a ordem – de Deus ou seguir seu coração e, o que se
provará no fim, sua vontade.
A solução, como já mencionei, é previsível. Mas ainda assim
vale a reflexão proposta (por mais que o espectador deixe o cinema com a nítida
sensação de que seria possível tratar do tema de modo menos fantástico).
Vale, então, a pena assistir? Depende de qual é o seu objetivo. Pela diversão, não. Para refletir, quem sabe.
PS (serei vulgar porque o enredo do filme pede): considere que a humanidade quase acabou porque um dos filhos de Noé não conseguiu dar uma simples trepadinha. Pobre Ham...!
Em tempo: esta foi apenas mais uma das licenças poéticas do diretor.
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