Vi Luciano do Valle pela última vez na semifinal do Paulistão,
na Vila Belmiro, em Santos, no último dia 30/3. Ele estava já posicionado para
uma entrada ao vivo na cabine da Band quando eu passei. Dei um alô com a mão, respondido
da mesma forma. Em seguida, um jovem parou com o pai pouco adiante da porta da
cabine e fez uma foto.
Devia ter tirado uma foto também e postado no Facebook – ah,
não tenho Facebook, Instagram ou qualquer coisa do gênero. Mas devia ter feito
a foto.
Quem, porém, há de imaginar a morte repentina, embora fosse
público que Luciano já exibia algumas dificuldades em razão de sua saúde?
Na cabine, lá estava ele, postura profissional, meio
sorridente e iluminado (não se trata de nenhum elogio “post mortem”; refiro-me
à iluminação da TV mesmo).
Foi curioso cruzar com Luciano ali, praticamente dividindo o
mesmo espaço de trabalho. Vinte e cinco, trinta anos atrás, eu era apenas um
garoto que sonhava ser jornalista e imaginava trabalhar em televisão. Eu era
apenas um garoto apaixonado por esportes e torcedor da Inter de Limeira. Eu era
apenas um garoto que tinha em nomes como Luciano do Valle e Osmar Santos um
espelho (não que eu pretendesse ser narrador de futebol, não tenho voz para
isto, mas ambos eram figuras que eu admirava).
Luciano e Osmar Santos imprimiam às transmissões uma emoção
jamais vista – e até hoje inigualada.
Que me perdoem os mais novos, mas eu cresci vendo estas
feras narrando esportes – principalmente Luciano do Valle, qualquer tipo de
esporte. Narrando e promovendo. Das lutas de boxe com Maguila à Copa do Mundo
de Futebol Master, na qual ele assumia a função de técnico do Brasil; das
conquistas no basquete e vôlei às curvas das fórmulas 1 e Indy.
“Cesssssssssssssssta do Brasilllllllllllllll!!!!!!!!!!!!!”,
era assim que Luciano do Valle narrava cada bola que passava pela cesta
adversária, culminando com a histórica transmissão da medalha de ouro no
Pan-Americano de 1987, nos Estados Unidos, quando a geração de Oscar & cia.
venceu os norte-americanos, pela primeira vez derrotados dentro de casa.
Ou, então, na também histórica vitória de Emerson Fittipaldi
nas 100 Milhas de Indianápolis, a primeira de um brasileiro, certamente a
principal etapa da Fórmula Indy que Luciano do Valle ajudou a popularizar no
Brasil.
Lembro bem das madrugadas em que ele comandava o “Apito
Final”, um programa delicioso que unia esporte e cultura, além de um time
magistral, com Armando Nogueira, Toquinho, etc, em comentários durante a Copa
do Mundo de 1990, na Itália (o formato foi reeditado em outros eventos).
Não sei quais lições Luciano do Valle deixa, só sei que seu
estilo certamente fará falta (já faz falta). Hoje, as narrações ganharam uma “tecnicidade”
chata, estão repletas de comentários inúteis ou excessivamente técnicos,
interrompendo a todo momento a razão de ser de tudo, a emoção do espetáculo.
Uma emoção que poucos souberam imprimir tão bem com a voz quanto Luciano do
Valle.
Em tempo: devo ter guardado um autógrafo do narrador durante
alguma passada dele pelo estádio “Major José Levy Sobrinho”, o Limeirão. Eu
costumava pedir autógrafos para todo mundo (do Osmar Santos tenho certeza que
guardei).
Infelizmente, minha antiga e amarelada coleção ficou na casa
dos meus pais. Portanto, sabe-se lá quando poderei revê-la e, quem sabe, “reencontrar”
com Luciano.
Ah: eu devia ter tirado uma foto...
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