sexta-feira, 4 de abril de 2014 | |

"Como ler as notícias" - a era da (des)informação

(...) No "outro lado", com frequência alarmante, sou abordado por jornalistas que não têm a mínima ideia do que estão perguntando e procuram, invariavelmente, apenas as aspas (como chamamos no jargão jornalístico uma declaração) que possam causar um choque, um mal entendido, e um consequente desconforto - obviamente induzido. Vejo isso repetidas vezes - e não só comigo, mas em infinitas "reportagens" na internet. Seria tudo muito válido, se um elemento não fosse constantemente desrespeitado nesse ciclo feroz de notícias hoje em dia: a verdade.

(...) quando ouvi isso pela primeira vez, abri espaço para falarmos de "verdadices" - minha tradução do termo que, se não me engano, foi popularizado pelo comediante/apresentador americano Stephen Colbert: "truthiness", algo que alguém acredita ser verdade não pelos fatos apresentados, mas pela mera repetição da informação (ou, no caso, desinformação). Esse é um fruto indigesto de uma cultura que consome cada vez mais a própria informação sem nenhum critério para avaliar os detalhes que absorve. Estamos, tristemente, mais e mais atolados na era da desinformação descrita por Bill McKibben. E podemos sair desse cenário? Bem, Alain de Botton acha que sim. Mas não sem transformações radicais - e, na minha avaliação, praticamente impossíveis de serem alcançadas.

(...) Mas assim como o "mundo ideal" imaginado pelo autor está longe (longíssimo) de existir, a estupidez que vemos diariamente na internet - e que passa por notícia - é também uma ficção. Nesse sentido, as palavras de Botton são um bálsamo para quem acredita que ainda é possível reinventar uma sociedade baseada na verdade e na transparência.

No entanto, transparência é justamente algo que vemos cada vez menos na informação de hoje. Blogs e twitters contribuem cada vez mais para a confusão - e no meio de pequenos interesses, que só recompensam as más fontes de desinformação (e nunca o leitor / ouvinte / telespectador / internauta), só acrescentam ruído ao já cacofônico cenário do jornalismo. E nossa melhor chance é torcer para que as pessoas fiquem cada vez mais atentas às armadilhas da desinformação. (...)

Fonte: blog do Zeca Camargo, postado em 4/4/14.

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