Os protestos de junho de 2013 (aliás, estaríamos esperando
junho chegar novamente...?) colocaram em cena uma série de questões, muitas das
quais até hoje não foram – e, creio, nunca serão – respondidas.
Quem eram, afinal, os manifestantes? O que queriam além da revogação
do aumento das passagens? Qual segmento, interesses e ideais representavam?
Tamanha falta de respostas concretas a estas e outras tantas
perguntas inibe qualquer generalização. Não se pode, portanto, falar de um movimento
uníssono, mas de um conjunto de movimentos que se uniu sob determinadas
condições de temperatura e pressão (para recorrer, de modo metafórico, a uma
expressão da química).
Passado o tsunami das ruas, restou um pequeno e barulhento
grupo, o dos “black blocs”. Não vou tratar deles aqui, visto que isto já foi
feito em outras postagens.
Quero falar de um outro grupo, que certamente está
representado entre os “black blocs”, mas não apenas entre eles. Foi assim
identificado por um colega de trabalho: “a turma dos rebeldes de iPhone”.
Referia-se àqueles que saíram às ruas gritando palavras de
ordem contra o capitalismo, os governos, a mídia capitalista e conservadora,
etc etc etc. Um discurso que, por vezes, retrocedia aos anos 1960.
Dito de modo mais direto: uma classe média que não ascendeu
socialmente agora, ou seja, não é tal “nova classe média”. Uma velha classe
média, que viaja uma vez por ano ao Exterior, frequenta círculos privilegiados
da cultura e possui... iPhone – símbolo do capitalismo dos novos tempos.
Quem melhor do que eu definiu essa turma foi João Pereira Coutinho
em recente coluna na “Folha de S. Paulo”:
“É precisamente contra este tipo de fenômenos que Rodrigo Constantino escreveu o seu ‘Esquerda Caviar’ (Record, 434 págs.), que começa da melhor forma possível: com a conhecida frase de Nelson Rodrigues de que é mais fácil amar a humanidade do que aqueles que nos estão mais próximos.
(...) a ‘aldeia midiática’ em que vivemos promove essas hipocrisias éticas: atores e humoristas que almoçam no Savoy - mas depois gostam de exibir em público as suas ‘lindas intenções’ contra o capitalismo que os alimenta.”
É isto: entre o luxo do cotidiano e o lixo das ruas, soa o
grito da velha classe média.
E dá-lhe WhatsApp!
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