- Presidente, nós defendemos que o pedido de estado de sítio
seja retirado. Vai suprimir as garantias constitucionais e fortalecer a
direita. Vai acabar se voltando contra o povo, contra seu governo e contra o
senhor mesmo.
- Olha, jovem, tu não precisas te preocupar, porque, antes
de vir aqui, já tomei providências para retirar. Não deixem essa notícia
circular, pois vou anunciar depois de amanhã. Acho bom vocês continuarem
falando contra daqui até lá. Direi que atendi a seu pedido. Mas o estado de
sítio não era para agredir vocês, não era contra o povo, não. Ao contrário. Eu
sei das dificuldades que tenho"¦ Agora vou lhes dizer uma coisa: eu não
vou terminar este mandato, não. Não chegarei até o fim.
O presidente era João Goulart, e o jovem, eu mesmo, numa
tarde de domingo, 6 de outubro de 1963, no apartamento de um familiar de Jango,
em Ipanema, no Rio de Janeiro. Estavam lá uns seis ou sete dirigentes da Frente
de Mobilização Popular (FMP). (...)
Fonte: José Serra, “Folha de S. Paulo”, Ilustríssima,
16/3/14, p; 4-7 (íntegra aqui).
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