(...) é possível ser justo e leal para com os amigos ao
mesmo tempo?
É claro que tudo depende de como definimos os termos, mas
não é de hoje que filósofos apontam uma incompatibilidade entre o
relacionamento especial que caracteriza a amizade e os princípios morais
exigidos por alguns dos principais sistemas éticos. É impossível, por exemplo,
ser totalmente imparcial, como cobra o consequencialismo, e dar preferência às
necessidades dos amigos.
(...) Ghiraldelli, sem deixar de reconhecer a dificuldade,
fica com os amigos, atribuindo grande parte da confusão a uma banalização dos
vários significados de "amor" e "philia" (amizade). Pode
ser, mas tenho uma visão um pouco mais trágica. Acho que nosso senso moral é o
resultado não projetado de diferentes pressões seletivas, o que praticamente
nos condena a ficar pulando de um sistema ético para outro sem jamais
satisfazer nossas intuições.
Fonte: Hélio Schwartsman, “Folha de S. Paulo”, Opinião, 6/4/14, p. 2 (íntegra aqui).
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