terça-feira, 1 de abril de 2014 | |

"As entranhas expostas do golpe"

- Presidente, nós defendemos que o pedido de estado de sítio seja retirado. Vai suprimir as garantias constitucionais e fortalecer a direita. Vai acabar se voltando contra o povo, contra seu governo e contra o senhor mesmo.

- Olha, jovem, tu não precisas te preocupar, porque, antes de vir aqui, já tomei providências para retirar. Não deixem essa notícia circular, pois vou anunciar depois de amanhã. Acho bom vocês continuarem falando contra daqui até lá. Direi que atendi a seu pedido. Mas o estado de sítio não era para agredir vocês, não era contra o povo, não. Ao contrário. Eu sei das dificuldades que tenho"¦ Agora vou lhes dizer uma coisa: eu não vou terminar este mandato, não. Não chegarei até o fim.

O presidente era João Goulart, e o jovem, eu mesmo, numa tarde de domingo, 6 de outubro de 1963, no apartamento de um familiar de Jango, em Ipanema, no Rio de Janeiro. Estavam lá uns seis ou sete dirigentes da Frente de Mobilização Popular (FMP). (...)

Fonte: José Serra, “Folha de S. Paulo”, Ilustríssima, 16/3/14, p; 4-7 (íntegra aqui).

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