"(...) pois sem indignação não há história."
Trecho da entrevista do sociólogo Michael Löwy:
(...) nos últimos tempos, vimos o
Occupy Wall Street, os indignados espanhóis e outros movimentos contra o
capitalismo. A mensagem é similar: outro mundo é possível. Por que esses
movimentos explodem, expõem as contradições do sistema e depois desaparecem?
Aliás, desaparecem? Por que não podem ‘mudar o mundo’?
Infelizmente, não há resposta pronta. (...) Essa ascensão
está relacionada à crise financeira, mas principalmente às injustiças gritantes
do neoliberalismo. É formidável assistir a esse sentimento de revolta na
sociedade civil, principalmente na juventude, tomar corpo nas ruas.
Inexplicável? Não, muito razoável: o mundo está passando por um momento de
turbulência. Inexplicável é não haver ainda mais revolta: por que não há mais
indignados noutros países? Estamos vivendo a mais dramática crise financeira desde
1929. Essa crise mostra a profunda irracionalidade do sistema: faltam recursos
para resolver as questões mais elementares da população, mas há bilhões de
euros disponíveis para salvar os bancos. Nesse sistema, os responsáveis
econômicos e políticos só agravam a crise, com as políticas de austeridade,
numa espiral sem fim, que faz com que economistas como Paul Krugman digam: mas
é absurdo, como isso é possível? Bom, essa é a lógica irracional do sistema
capitalista. (...) Alguns de meus amigos marxistas acreditam que essa é a crise
"final" do capitalismo, vítima de suas próprias contradições. Não
concordo. Fico com Walter Benjamin, que dizia: o capitalismo nunca morrerá de
morte natural. Apesar das crises, o sistema encontra saídas, como encontrou na
década de 1930: uns com o fascismo; outros com a 2ª Guerra Mundial.
(...) A ideia de
promover mudanças necessariamente passa pelo Estado?
A questão é complicada. Evidentemente uma série de
alternativas e transformações sociais são impostas, na prática, pelos
movimentos, paralelamente aos Estados. (...) Portanto, não é preciso esperar
por tudo. Mas há limites, pois quem predomina é o capital. Em última análise, é
preciso haver um enfrentamento antissistêmico que passe pelo campo político,
pelas instituições. Obviamente essas instituições precisam ser transformadas.
Ainda são totalmente oligárquicas e alheias aos interesses e aspirações da
sociedade. O Estado, tal como está, dificilmente pode impulsionar
transformações. Assim, a revolução deve ser estar no nosso horizonte histórico,
mas isso não nos impede de lutar por reivindicações concretas e imediatas no
presente. (...)
Fonte: Juliana Sayuri, “Quer apostar”, O Estado de S. Paulo, Aliás, 29/12/13, p. E4-5.
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