(...) Se Samantha é um avatar avançado de Siri, Theodore em
nada difere dos cibernautas do presente que vivem vicariamente num mundo à
parte, como almas penadas do limbo digital em busca de uma saída distanciada,
clean, para sua solidão. São zumbis, e não apenas usuários, das mídias sociais,
viciados no Facebook, no Twitter e serviços afins. Diversos estudos recentes, e
não tão recentes, sobre os efeitos negativos da convivência virtual revelam
dados preocupantes. Conclusão unânime: quanto mais vazia nossa vida pessoal,
maior a tendência para preenchê-la na realidade virtual. Quanto mais ocupados e
ativos, menos nos deixamos seduzir pelo ciberescapismo.
Permanecer muito tempo nas redes sociais pode provocar
insônia, ansiedade, estresse, distúrbios digestivos (revelação da última edição
do Journal of Eating Disorders), anorexia, afetar a autoestima,
incitar a inveja e o ciúme. A psicoterapeuta Sherri Campbell defende essa tese
com ardor: "As mídias sociais nos dão um falso sentimento comunitário, uma
falsa conectividade com o mundo e as pessoas. As trocas que nelas se processam
são meros simulacros das relações interpessoais no mundo físico. Milhares de
contatos, amigos, seguidores e curtições não valem o sucesso real, palpável,
que podemos desfrutar no mundo real".
(...) Nas mídias sociais a
vida dos outros parece perfeita e isso pode nos deixar complexados e
deprimidos, ainda que o que os outros nos mostram seja apenas um instantâneo da
realidade, eventualmente edulcorada, falsificada, "porque também produto
de um complexo de inferioridade", acrescenta a psicoterapeuta (...)
Fonte: Sérgio Augusto, “O Estado de S. Paulo”, Aliás, 16/3/14, p. E9 (íntegra aqui).
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