domingo, 16 de março de 2014 | |

"Ciberescapismo"

(...) Se Samantha é um avatar avançado de Siri, Theodore em nada difere dos cibernautas do presente que vivem vicariamente num mundo à parte, como almas penadas do limbo digital em busca de uma saída distanciada, clean, para sua solidão. São zumbis, e não apenas usuários, das mídias sociais, viciados no Facebook, no Twitter e serviços afins. Diversos estudos recentes, e não tão recentes, sobre os efeitos negativos da convivência virtual revelam dados preocupantes. Conclusão unânime: quanto mais vazia nossa vida pessoal, maior a tendência para preenchê-la na realidade virtual. Quanto mais ocupados e ativos, menos nos deixamos seduzir pelo ciberescapismo.

Permanecer muito tempo nas redes sociais pode provocar insônia, ansiedade, estresse, distúrbios digestivos (revelação da última edição do Journal of Eating Disorders), anorexia, afetar a autoestima, incitar a inveja e o ciúme. A psicoterapeuta Sherri Campbell defende essa tese com ardor: "As mídias sociais nos dão um falso sentimento comunitário, uma falsa conectividade com o mundo e as pessoas. As trocas que nelas se processam são meros simulacros das relações interpessoais no mundo físico. Milhares de contatos, amigos, seguidores e curtições não valem o sucesso real, palpável, que podemos desfrutar no mundo real".

(...) Nas mídias sociais a vida dos outros parece perfeita e isso pode nos deixar complexados e deprimidos, ainda que o que os outros nos mostram seja apenas um instantâneo da realidade, eventualmente edulcorada, falsificada, "porque também produto de um complexo de inferioridade", acrescenta a psicoterapeuta (...)

Fonte:
Sérgio Augusto, “O Estado de S. Paulo”, Aliás, 16/3/14, p. E9 (íntegra aqui).

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