Recebi recentemente duas
mensagens de pessoas por quem tenho muito apreço – o jornalista (e
ex-aluno) Ivan Costa, direto da Irlanda, e o engenheiro (e ex-vereador) Mário Botion, direto de Limeira (SP).
Ivan manifestou saudade.
Mário parabenizou por trabalhos recentes.
Lembrar de alguém é das
manifestações mais relevantes de carinho e consideração. Manifestar essa
lembrança por e-mail, mensagens ou telefonemas é algo raro.
Raro também é receber tais
manifestações de modo desinteressado.
Por vezes, há pessoas a quem
dedicamos boa parte de nossa vida e elas sequer lembram da nossa existência. Há
outras, porém, como Ivan e Mário, capazes de nos surpreender com suas lembranças. Que
assim seja, então!
Interessante também a
manifestação de saudade. Comentei com o Ivan, em resposta, que expressar esse
sentimento exige algumas qualidades, como coragem, humildade e consideração. É realmente
para poucos, muito poucos...
Isto tudo me remeteu ao texto do qual extraí os trechos abaixo.
***
E aí, assim do nada (como se
fosse possível), você se lembra de uma pessoa há muito diluída no passado: que
fim levou? Por onde anda, se é que anda? Muitas vezes, morre nesse ponto a
vontade de atualizar lembranças que, aparentemente sem motivo, a memória regurgita.
Morre por não valer tanto a pena; por preguiça; por medo de que, reaberto o
baú, dele saltem miasmas e esqueletos do que não convém ressuscitar.
(...) Se reencontros
ao acaso tantas vezes já nos proporcionam momentos penosos, para que remexer
deliberadamente no passado? Sei dos riscos, e até paguei contas pesadas; mas
sou a favor da arqueologia sentimental. Sou dos que vão atrás de saber de
alguém que, tendo sido em nossa vida uma presença relevante, por fratura ou
mero esgarçamento desapareceu de cena. Vou atrás, não com a veleidade ingênua
de entronizar essa pessoa no lugar que ocupava e viver tudo de novo, mas para
não deixar em mim algum fio desencapado.
Pode ser amargo o fruto da pesquisa arqueológica, mas acho
que ainda assim vale a pena a aventura de ir buscá-lo. (...)
Fonte: Humberto Werneck, “Arqueologia sentimental”, O Estado
de S. Paulo, Caderno 2, 16/3/14, p. C7 (grifo meu).
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