terça-feira, 18 de março de 2014 | |

Indignados do mundo, uni-vos!

"(...) pois sem indignação não há história."

Trecho da entrevista do sociólogo Michael Löwy:

(...) nos últimos tempos, vimos o Occupy Wall Street, os indignados espanhóis e outros movimentos contra o capitalismo. A mensagem é similar: outro mundo é possível. Por que esses movimentos explodem, expõem as contradições do sistema e depois desaparecem? Aliás, desaparecem? Por que não podem ‘mudar o mundo’?
Infelizmente, não há resposta pronta. (...) Essa ascensão está relacionada à crise financeira, mas principalmente às injustiças gritantes do neoliberalismo. É formidável assistir a esse sentimento de revolta na sociedade civil, principalmente na juventude, tomar corpo nas ruas. Inexplicável? Não, muito razoável: o mundo está passando por um momento de turbulência. Inexplicável é não haver ainda mais revolta: por que não há mais indignados noutros países? Estamos vivendo a mais dramática crise financeira desde 1929. Essa crise mostra a profunda irracionalidade do sistema: faltam recursos para resolver as questões mais elementares da população, mas há bilhões de euros disponíveis para salvar os bancos. Nesse sistema, os responsáveis econômicos e políticos só agravam a crise, com as políticas de austeridade, numa espiral sem fim, que faz com que economistas como Paul Krugman digam: mas é absurdo, como isso é possível? Bom, essa é a lógica irracional do sistema capitalista. (...) Alguns de meus amigos marxistas acreditam que essa é a crise "final" do capitalismo, vítima de suas próprias contradições. Não concordo. Fico com Walter Benjamin, que dizia: o capitalismo nunca morrerá de morte natural. Apesar das crises, o sistema encontra saídas, como encontrou na década de 1930: uns com o fascismo; outros com a 2ª Guerra Mundial.

(...) A ideia de promover mudanças necessariamente passa pelo Estado?
A questão é complicada. Evidentemente uma série de alternativas e transformações sociais são impostas, na prática, pelos movimentos, paralelamente aos Estados. (...) Portanto, não é preciso esperar por tudo. Mas há limites, pois quem predomina é o capital. Em última análise, é preciso haver um enfrentamento antissistêmico que passe pelo campo político, pelas instituições. Obviamente essas instituições precisam ser transformadas. Ainda são totalmente oligárquicas e alheias aos interesses e aspirações da sociedade. O Estado, tal como está, dificilmente pode impulsionar transformações. Assim, a revolução deve ser estar no nosso horizonte histórico, mas isso não nos impede de lutar por reivindicações concretas e imediatas no presente. (...)

Fonte: Juliana Sayuri, “Quer apostar”, O Estado de S. Paulo, Aliás, 29/12/13, p. E4-5.

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