domingo, 2 de setembro de 2012 | |

O Brasil pós-mensalão

(...) O início do fim. Trocou o passado de lutas e o futuro promissor por um vício: a embriaguez do poder, em que "os fins justificam os meios". Quis ser tudo, virou nada. Ontem, o Wikipédia já dizia que João Paulo Cunha "foi" um político brasileiro.

Sua condenação pelo Supremo Tribunal Federal, por contundentes 9 a 2, entra para a história como o fim de uma era. Vai-se a impunidade, vem a responsabilidade. A Câmara dos Deputados, o Banco do Brasil, a Petrobras, a Presidência da

República - as instituições, enfim - não têm donos, ou dono. São do Estado e servem à nação.

Isso vale para o Supremo, até mais do que para todas as demais. Lê-se que Lula está triste, acabrunhado, por sentir-se "traído". Dos 11 ministros (incluindo Peluso), 8 foram colocados ali nos governos petistas e só 2 votaram pela absolvição de João Paulo -por extensão, do PT.

A corte suprema não vota mais com os poderosos, pelos poderosos. Julga com a lei, pela justiça. Inaugura, assim, um novo Brasil.

Fonte: Eliane Cantanhêde, "Os bons meninos", Folha de S. Paulo, Opinião, 2/9/12, p. 2.

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O Brasil, os políticos e suas práticas não vão mudar coisa alguma por efeito do chamado julgamento do mensalão, sejam quais e quantas forem as condenações. É o que indica o indesmentido fluxo histórico brasileiro e o que comprova a experiência mais ou menos recente.

"O Brasil não será mais o mesmo", ou, no dizer dos que precisam ser pernósticos, "o julgamento é um paradigma", são frases que pululam nos meios de comunicação, com suas similares, como meros produtos de ingenuidade ou do engodo comum.

O que vai mudar são alguns dos métodos agora desvendados. (...)

A degradação da ética e do nível cultural na política não se altera com episódios tão circunscritos como o julgamento do mensalão.

Se ainda for corrigível, reverter a degradação dependeria de muitos fatores, como remodelação do financiamento eleitoral e do sistema partidário, redução da Câmara, das Assembleias e das Câmaras Municipais, exigências para coligações, efetividade dos programas partidários, e por aí afora.

O momento facilita constatar-se a continuidade da degradação política e das eleições como vestibular para a indústria do enriquecimento. É só ver dois ou três programas da propaganda eleitoral: a média dos candidatos, em qualquer sentido, não deixa dúvida. Não sobrará dúvida nem sobre a ingenuidade ou o engodo do besteirol de que o Brasil mudará com o julgamento agora feito pelo Supremo Tribunal Federal - um, em dezenas ou centenas de julgamentos necessários.

Fonte: Janio de Freitas, "Amanhã tal como ontem", Folha de S. Paulo, Poder, 2/9/12.

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