Hoje é um dia triste. Fiquei
sabendo que minha irmãzinha Jully não está mais por aqui.
É bem verdade que nos últimos
tempos ela andava meio ausente - como a cachorrinha que conhecemos,
pois de corpo era mais presente que nunca. Invadia meu quarto e ficava
trombando com as portas do guarda-roupa e com as paredes. A cena era triste,
confesso. O mesmo ela fazia nos demais cômodos. A escada já não mais descia. Tinha
virado a “bolsa” da minha mãe, como brincávamos. Onde ia, tinha que ser no
colo.
Nos últimos dias, deu para
girar sem parar. Como que à procura de um caminho – aliás, não é assim que
estamos todos nós...?
Jully era a segunda das
quatro irmãs que minha mãe nos arrumou ao longo dos últimos anos. Tinha cerca
de 15 anos, estava velhinha e cega. Mas, acredito, era feliz. Pelo menos
recebeu sempre o carinho de todos nós – por mais que fizesse coisas erradas e
por mais que fosse chata e egoísta (sim, ela era). Não quis saber dos filhos
quando os teve. Largou-os à própria sorte (ou aos cuidados da minha mãe...). Só
um sobreviveu.
Não, não a critiquem. Ela
era assim – amava quem a amava. Era às vezes carente, vivia grudada com minha
mãe. Certa vez, teve a chance de ir para a praia. Foi um tormento. Não queria
saber de esperar algumas horas no apartamento, chorava desesperadamente. Para
desespero de todos. Nunca mais foi. Nem ela nem as outras.
Quando mudamos de casa, deu
muito trabalho. Demorou para se acostumar com os novos ambientes e também
chorava muito.
No cotidiano, não era muito de ficar
pulando para brincar, mas fazia uma festa incrível sempre que algum de nós
chegava de viagem. Um latido curto de felicidade, misturado a giros incontáveis
e pulos de alegria.
Lembro-me que certa vez
tentou pegar um passarinho que passou no alto do muro do quintal. Obviamente,
ela jamais o alcançaria. Ainda assim tentou um pulo além do normal, o que lhe
custou uma espécie de entorse e a nós, preocupação e gastos com veterinário.
Foi quando descobrimos que ela tinha a ossada traseira (se é que se pode chamar
assim) torta.
Ela também tinha uma espécie
de sopro no coração. Isto nunca lhe causou nada, mas ultimamente andava
cansada.
Sua necessidade de atenção
permanente nos últimos meses estressou um pouco, é verdade. Por vezes
perdíamos a paciência, mas eu sempre lembrava: “O que ela pode fazer? Ela está
assim, não faz nada de propósito. Tadinha...”. Por razões diversas, minha mãe
(a quem, por fim, restavam os cuidados com a Jully) andava com os nervos à flor
da pele.
Jully teve diversos apelidos
pela vida. Foi-se sendo a “Branca” – embora costumeiramente suja (coitada...).
Era assim que eu a chamava ultimamente. No coração, porém, será sempre a
“Zuca”, a nossa “Zuquinha”.
Vai com Deus, Jully. Fica com
Deus, Branca.
Você nos deu sempre o seu
melhor. Espero que possamos ter retribuído seu carinho à altura. Você foi
melhor que muitos que encontramos pelos caminhos da vida. Era inocente e amava
incondicionalmente. Esta é a sua lição.
Valeu por tudo, Zuca!
Zuquinha!
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