sábado, 15 de setembro de 2012 | |

A minha querida "Zuquinha"

Hoje é um dia triste. Fiquei sabendo que minha irmãzinha Jully não está mais por aqui.

É bem verdade que nos últimos tempos ela andava meio ausente - como a cachorrinha que conhecemos, pois de corpo era mais presente que nunca. Invadia meu quarto e ficava trombando com as portas do guarda-roupa e com as paredes. A cena era triste, confesso. O mesmo ela fazia nos demais cômodos. A escada já não mais descia. Tinha virado a “bolsa” da minha mãe, como brincávamos. Onde ia, tinha que ser no colo.

Nos últimos dias, deu para girar sem parar. Como que à procura de um caminho – aliás, não é assim que estamos todos nós...?

Jully era a segunda das quatro irmãs que minha mãe nos arrumou ao longo dos últimos anos. Tinha cerca de 15 anos, estava velhinha e cega. Mas, acredito, era feliz. Pelo menos recebeu sempre o carinho de todos nós – por mais que fizesse coisas erradas e por mais que fosse chata e egoísta (sim, ela era). Não quis saber dos filhos quando os teve. Largou-os à própria sorte (ou aos cuidados da minha mãe...). Só um sobreviveu.

Não, não a critiquem. Ela era assim – amava quem a amava. Era às vezes carente, vivia grudada com minha mãe. Certa vez, teve a chance de ir para a praia. Foi um tormento. Não queria saber de esperar algumas horas no apartamento, chorava desesperadamente. Para desespero de todos. Nunca mais foi. Nem ela nem as outras.

Quando mudamos de casa, deu muito trabalho. Demorou para se acostumar com os novos ambientes e também chorava muito.

No cotidiano, não era muito de ficar pulando para brincar, mas fazia uma festa incrível sempre que algum de nós chegava de viagem. Um latido curto de felicidade, misturado a giros incontáveis e pulos de alegria.

Lembro-me que certa vez tentou pegar um passarinho que passou no alto do muro do quintal. Obviamente, ela jamais o alcançaria. Ainda assim tentou um pulo além do normal, o que lhe custou uma espécie de entorse e a nós, preocupação e gastos com veterinário. Foi quando descobrimos que ela tinha a ossada traseira (se é que se pode chamar assim) torta.

Ela também tinha uma espécie de sopro no coração. Isto nunca lhe causou nada, mas ultimamente andava cansada.

Sua necessidade de atenção permanente nos últimos meses estressou um pouco, é verdade. Por vezes perdíamos a paciência, mas eu sempre lembrava: “O que ela pode fazer? Ela está assim, não faz nada de propósito. Tadinha...”. Por razões diversas, minha mãe (a quem, por fim, restavam os cuidados com a Jully) andava com os nervos à flor da pele.

Jully teve diversos apelidos pela vida. Foi-se sendo a “Branca” – embora costumeiramente suja (coitada...). Era assim que eu a chamava ultimamente. No coração, porém, será sempre a “Zuca”, a nossa “Zuquinha”.

Vai com Deus, Jully. Fica com Deus, Branca.

Você nos deu sempre o seu melhor. Espero que possamos ter retribuído seu carinho à altura. Você foi melhor que muitos que encontramos pelos caminhos da vida. Era inocente e amava incondicionalmente. Esta é a sua lição.

Valeu por tudo, Zuca! Zuquinha!




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