quarta-feira, 22 de junho de 2011 | |

Tolerância zero!

Quem teve a oportunidade de acompanhar a edição do último sábado do quadro “Lar Doce Lar” do programa “Caldeirão do Huck”, da Rede Globo, entenderá melhor a manifestação que se segue.

A repulsa à corrupção deveria ser inerente ao caráter humano. Fosse assim, porém, esta praga simplesmente não existiria.

O que chama a atenção no Brasil é o nível que esse negócio atingiu. Um nível “endêmico”, institucionalizado, como manifestou certa vez um diplomata norte-americano (o que, aliás, gerou uma pequena crise entre os governos brasileiro e dos EUA).

Ao ler recentemente sobre a defesa que o ex-presidente Lula fez do prefeito de Campinas, Hélio de Oliveira Santos, cujo governo e cuja esposa estão afundados até na lama em denúncias de corrupção, minha repulsa aos corruptos aumenta ainda mais. Lula - para quem as denúncias são políticas (como se promotores e juízes tivessem algum interesse político no episódio) - deveria ter maior noção do que representa e do peso de suas palavras e seus exemplos.

Ao ver no noticiário o esquema fraudulento comandado por um grupo de médicos em hospitais públicos de São Paulo, fico ainda mais revoltado e enojado. Como pode alguém que teve a oportunidade de se formar em uma das profissões mais nobres que existem, cujo objetivo é justamente atender o próximo, roubar dinheiro público? O mesmo dinheiro que deveria servir para melhorar o sistema público de saúde!

(Por isso sou veementemente contra a criação de um imposto para o setor; dinheiro existe, basta fechar o ralo da corrupção.)

Ao confrontar a história emocionante mostrada na TV da mãe que criou as filhas, com dignidade, tendo uma renda mensal de apenas R$ 300 com as manifestações do ex-presidente, com as práticas de Brasília e a corrupção dos médicos, vejo minha indignação justificada.

Cada vez mais temos que ser mais intolerantes com a corrupção. Ela é a raiz de todos os males: da falta de segurança que assombra as cidades à péssima qualidade da saúde e educação públicas.

Resistir é preciso, denunciar é preciso, derrubar estes usurpadores do poder é preciso.

Para inspirar esta luta, reproduzo a seguir o poema “Só de sacanagem”, de Elisa Lucinda:

Meu coração está aos pulos!

Quantas vezes minha esperança será posta à prova? Por quantas provas terá ela que passar?

Tudo isso que está aí no ar, malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu dinheiro, que reservo duramente para educar os meninos mais pobres que eu, para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais, esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.

Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova? Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?

É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.

Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e dos justos que os precederam: "Não roubarás", "Devolva o lápis do coleguinha", " Esse apontador não é seu, minha filhinha".

Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar. Até habeas corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha visto falar e sobre a qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará.

Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: mais honesta ainda vou ficar. Só de sacanagem! Dirão: "Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo o mundo rouba" e eu vou dizer: “Não importa, será esse o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez”. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos, vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês.

Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau. Dirão: "É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal". Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal. Eu repito, ouviram? IMORTAL!

Sei que não dá para mudar o começo mas, se a gente quiser, vai dá para mudar o final!


Em tempo: para quem não viu, o episódio do “Lar Doce Lar” citado nesta postagem pode ser acessado aqui.

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