segunda-feira, 6 de junho de 2011 | |

Caso Palocci: a culpa é de quem?

Então ficamos assim: um ex-prefeito alvo de denúncias é alçado à condição de ministro da Fazenda, sob a confiança do dito mercado, uma entidade “superior, invisível, poderosa e maquiavélica”. Aí então o ministro começa a frequentar uma casa bastante conhecida na capital federal, onde não se tratam de questões republicanas.

O caso vem a público. Envolvido num escândalo, reforçado pela denúncia de um certo Francenildo, caseiro, o então ministro decide por uma atitude não republicana: participar da quebra do sigilo do denunciante a fim de desqualificá-lo. A armadilha é descoberta e o ministro cai – negando, é verdade, participação no caso.

Anos depois, a Caixa Econômica Federal, um dos principais órgãos do governo, também envolvida no escândalo da quebra do sigilo do caseiro, imputa textualmente - num processo judicial - a responsabilidade ao Ministério da Fazenda: "O ministério poderia, e deveria, ter recebido as informações e apenas ter levado a cabo as investigações recomendáveis para o caso, não permitindo que seu assessor procurasse a imprensa". (...) “nem mesmo a Polícia Federal tem dúvida de que o assessor do Ministério da Fazenda foi o responsável pela entrega das informações bancárias do autor à imprensa, com consequente divulgação, a partir de quando houve a quebra do sigilo". (trechos da reportagem da “Folha de S. Paulo” de 25/5/2011)

Não bastasse esse histórico, eis que o ex-ministro é eleito deputado federal. Quatro anos depois, volta a ser fiador junto ao mercado – aquele mesmo ente estranho de outrora – de uma nova candidatura presidencial. Vencida a batalha das urnas, o mesmo cidadão surge como chefe da transição de governo e assume o principal posto na hierarquia ministerial, o de ministro da Casa Civil.

Que isto tenha ocorrido num partido que há anos se tornou apenas mais um na sopa de letras político-partidária brasileira não chama a atenção (afinal, este mesmo partido acaba de reintegrar aos seus quadros o executor do esquema do “mensalão”). O que espanta é a tranquilidade com que a sociedade brasileira recebe esse tipo de situação. Onde está a indignação nacional? Ou a ascensão de um palaciano envolvido em atos não republicanos é apenas o reflexo de um povo pouco afeito às questões morais?

A história, contudo, é pródiga em lições. E eis que em menos de seis meses, o ex-prefeito-ministro-deputado vê-se no centro de um novo escândalo. Nos quatro anos em que esteve no Parlamento federal, ele atuou como consultor de empresas. Viu seu patrimônio aumentar 20 vezes, segundo reportagem da “Folha de S. Paulo” de 15/5/2011. Em apenas dois meses, já como chefe da transição do novo governo, recebeu nada menos do que R$ 10 milhões.

Acreditar que os negócios não tenham ultrapassado a fronteira do que é republicano é o mesmo que esperar pelo Papai Noel. Se não há fatos concretos que indiquem ter havido caixa dois eleitoral, tráfico de influência ou corrupção propriamente dita, tampouco há explicações convincentes em sentido contrário – por mais que os figurões partidários tentem mostrar que tudo está dentro da lei.

“Desde o início, sempre achei que ele tinha dado as respostas sobre sua consultoria, agora ele detalhou. Ele mesmo afirmou, e sempre achei isso também, que não há nenhuma crise, e com essas informações detalhadas acredito que se encerra o assunto”, escreveu em seu site o deputado estadual e presidente nacional do PT, Rui Falcão.

Respostas detalhadas? Quais respostas se o novamente ministro havia silenciado desde então? Aliás, causa estranheza a recusa a falar de um negócio que supostamente foi todo feito de modo legal e moral, como agora o próprio apregoa.

“O mais importante foi a afirmação de não ter atuado em situações que envolveriam órgãos públicos. Tampouco ter desenvolvido qualquer atividade que dependesse, direta ou indiretamente, de decisão governamental. Da minha parte, tem toda confiança”, manifestou a senadora Marta Suplicy ao site do companheiro de partido.

E o que ela esperava? Que o colega palaciano viesse a público confessar: “Sim, usei minha influência. Sim, fiz negócios escusos”. Ora, ainda não chegamos a tal ponto – embora estejamos perto disso (um ex-presidente que viu seu partido envolvido no escândalo de caixa dois afirmou sem rodeios que “todo mundo faz”).

Tivéssesmos, como país, um mínimo de decência, não fosse a frouxidão moral marca de nossa classe política (e de parte da nossa sociedade, que aceita tudo com conivência), o hoje novamente ministro estaria alijado da vida pública há tempos.

Enquanto isso não acontece e o ministro balança, mas não cai, ficamos assim.

1 comentários:

tracy disse...

a culpa é do povo, não esse que pensa e que agi e sim daqueles que reclamam em ponto de ônibus e quando tem a oportunidade de calar tais corruptos coloca quem mal sabe escrever!

é uma discussão professor que vai longe, mas a verdade é que deu nojo em ver ele se defendendo das acusações , que sabemos, são a pura verdade, tirando com a cara da população!

eu pego essa culpa pra mim, por não ter gritado com quem jogou seu voto no lixo, me culpo por não ser mais ativa, por ser uma recém jornalista ainda omissa com esse lance de política...

a culpa fica comigo pode ser? shshs