domingo, 5 de agosto de 2012 | |

"Dois legados"

Dois mitos do século 20 morreram em Los Angeles num dia 5 de agosto: Carmen Miranda, em 1955, aos 46 anos, e Marilyn Monroe, em 1962, aos 36. Eram fenomenais, maiores que a vida e foram vítimas, ambas, de anos de abuso de substâncias legais, mas letais. Deixaram um imenso legado artístico e são cultuadas hoje por pessoas que nem eram nascidas quando elas partiram. A forma como se administra seus legados é que difere.

Marilyn, por exemplo. Nesses 50 anos, seu rosto nunca saiu da mídia, e sua imagem em "O Pecado Mora ao Lado", com o vestido branco esvoaçando e a calcinha à mostra, foi copiada, caricaturada e explorada de todo jeito, por fãs sinceros ou apenas espertos. Há pouco, materializou-se numa estátua de oito metros de altura, exposta numa praça de Chicago.


Os livros a seu respeito já chegam a mil - qualquer um que tenha passado 15 minutos perto dela sente-se apto a escrever suas "memórias de Marilyn". E a teoria segundo a qual ela foi morta pelo FBI, a mando dos Kennedy, continua a render vários livros por ano. Tudo isso é visto com indiferença ou prazer pelos herdeiros de Lee Strasberg, fundador do Actor's Studio, a quem Marilyn deixou seu espólio.

Eles sabem que é esse material que mantém Marilyn viva e faz com que seus filmes nunca deixem de circular. Não importa o formato (VHS, laser, DVD, blu-ray, o que vier), eles sempre estarão à venda e atraindo propostas para Marilyn estrelar campanhas publicitárias, produtos de beleza, joias, até óculos. É daí que vem o dinheiro - e Marilyn ganha mais hoje do que em vida.

Já a eternidade de Carmen depende de seus amorosos fãs. Amanhã, um grupo deles, reforçado pelo Império Serrano, o Bola Preta e a Confraria do Garoto, irá ao seu túmulo no São João Batista pedir algo modesto, mas que lhe é devido há muito tempo: uma estátua no Rio.

Fonte: Ruy Castro, “Folha de S. Paulo”, Opinião, 4/8/12, p. 2.

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