Os números impressionam: praticamente todos os alunos de
pelo menos dez CIs (Centros Infantis) de Limeira repetiram a refeição servida
na merenda praticamente todos os dias em fevereiro deste ano.
Os dados contam de relatórios entregues pelos próprios CIs à
Secretaria da Educação. Eles foram apresentados nesta quarta-feira (1/8) pela
CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Câmara Municipal que investiga
possíveis irregularidades no contrato de terceirização da merenda escolar na
cidade e no fornecimento das refeições.
Vejamos:
CI “Fábio Franco de Oliveira” – 202 alunos, 375 refeições
por dia em média
CI “Caroline Pardo Campos Freire” – 154 alunos, 252
refeições por dia em média
CI “José Eduardo Voight Sampaio” – 140 alunos, 250 refeições
por dia em média
CI “Lia Maura Mattos Silveira” – 184 alunos, 361 refeições
por dia em média
CI “Lucinda Tank Kühl” – 201 alunos, 360 refeições por dia
em média
Estão na mesma situação, por exemplo, os CIs “Orlanda Grisi
Rocco”, “Prefeito Ary Levy Pereira”, “Stella Regina Furlan” e “Aldo José Kühl”.
Para entender: o que aqui consta como refeição é chamado
tecnicamente de cardápio (ou porcionamento). Cada cardápio é constituído de
várias refeições: para os CIs (período integral), são quatro; para as Emeis,
duas.
Durante a terceirização, caso um aluno do CI comesse uma ou
duas refeições, a prefeitura pagava o cardápio completo (como se fossem as
quatro). E se repetisse uma refeição (o café, por exemplo), ainda que não
desfrutasse das demais, a prefeitura pagava dois cardápios completos.
Se, numa escola com 200 alunos, foram servidos por dia 375
cardápios, em média, isto significa que 93,5% dos estudantes repetiram alguma
refeição. Todos os dias praticamente. Os números chamam ainda mais atenção ao
se levar em consideração que há bebês nos CIs que não pedem para repetir a
refeição, além de estudantes faltosos.
Conforme o relator da CPI, vereador Ronei Costa Martins
(PT), um ex-sócio de uma das empresas fornecedoras de merenda afirmou em
depoimento que merendeiras eram orientadas a colocar alimentos em quantidade
menor para forçar os alunos a repetirem a refeição. Daí resultariam os números
apresentados durante a reunião da CPI.
Secretário da Educação de Limeira entre 2005 e abril deste
ano, o ex-vereador Antônio Montesano Neto negou irregularidades. “Se as diretoras
(das escolas) assinaram que repetiram é porque houve repetição. Se elas
assinaram é porque essa comida foi servida”, falou em depoimento à CPI.
Pelas regras da secretaria, as diretoras endossavam - ou não
- as planilhas apresentadas pela empresa fornecedora da merenda com a contagem
dos cardápios servidos. Daí Montesano afirmar que não houve fraude na contagem porque
o controle passava por todas as diretoras, cada uma em sua unidade de ensino.
“Mesmo que o secretário quisesse (fraudar), tinha que passar por todas elas”,
disse.
Montesano salientou que o pagamento por cardápio (ou seja,
de um conjunto de refeições independentemente de quantas vezes o aluno comia)
estava previsto no edital da licitação para terceirização da merenda e nos
posteriores contratos. Ele admite que a regra pode ter sido falha, mas defendeu
a terceirização do serviço. “Podia ter sido discutido melhor (o edital)”, falou
à imprensa.
O ex-secretário afirmou desconhecer qualquer eventual ato de
corrupção envolvendo a terceirização da merenda. “Desconheço qualquer tipo de
pagamento de propina”, afirmou. E repetiu após ser confrontado com um diálogo
suspeito que teria tido a participação dele e do prefeito cassado Silvio Félix
(PDT), além de uma terceira pessoa: “Não participei e desconheço o pagamento de
propina para quem quer que seja”.
Candidato a vereador pelo PDT, Montesano revelou que chegou
a questionar o então prefeito a respeito das denúncias de corrupção que
surgiram em todo o país envolvendo prefeituras que tinham contrato de
terceirização da merenda com o grupo SP Alimentação, caso de Limeira. “Está
dando rolo isso, como é que vai ficar?”, teria perguntado ao chefe do
Executivo.
De acordo com ele, Félix “também ficou preocupado com isso”
e sugeriu uma consulta às diretoras das escolas. O ex-secretário afirmou que a
ampla maioria delas defendeu a terceirização.
Montesano mostrou-se tranquilo ao tratar do assunto. “Eu não
tenho medo de discutir merenda com ninguém”, falou. E garantiu não estar
arrependido de ter participado do governo Félix comandando uma área que virou o
centro de um turbilhão político e jurídico - a terceirização, cujo primeiro
contrato foi julgado irregular pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE), é alvo
de ações judiciais. “Não, não, não me arrependo”, disse. “Sou professor de
História, que é ser profeta do passado. Ser profeta do passado é tranquilo”,
comparou.
Além de Montesano, também prestaram depoimento nesta
quarta-feira a atual secretária da Educação, Araciana Dalfré; o ex-diretor do
setor de merenda, Luís Carlos Prada; e a diretora da secretaria para a área de
merenda, Sueli Komatsu.
Dona da Le Barom, empresa que vinha fornecendo merenda na
cidade, Marisa Bortoletto Ribeiro não compareceu para depor. Em ofício à CPI,
ela alegou “motivo de força maior”, sem especificá-lo. E se comprometeu a
prestar depoimento após o dia 17.
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