Se tem algo de conclusivo a ser tirado do primeiro dia de
depoimentos à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Corrupção (vulgarmente
chamada de CPI do Messias), na Câmara de Limeira, é o fato de ter havido uma
mistura entre negócios públicos e privados durante o governo do prefeito
cassado Silvio Félix (janeiro de 2005 a fevereiro de 2012).
Tomando por verdade o depoimento mais aguardado, o de José
Josué dos Santos, o tal Messias, tem-se que um servidor público (lotado na
Secretaria Municipal de Agricultura) foi exonerado para atuar como prestador de
serviços particulares para o então prefeito. Uma espécie de “office-boy”, faz
tudo.
Até aí nada demais. Acontece que, segundo Messias, os seus pagamentos eram feitos por assessores diretos do então chefe do Executivo, primeiramente por Carlos Henrique Pinheiro, o Ricko (na época com cargo de superintendente junto ao gabinete do prefeito), e depois por Sérgio Sterzo (secretário de Governo e Desenvolvimento).
Posteriormente, este pagamento – sempre com dinheiro
supostamente de Félix – passou a ser feito numa empresa da cidade. Não se sabe
o motivo da mudança. Pelo que Messias contou, o próprio prefeito solicitou,
pessoalmente, a dirigentes da empresa para que esta sediasse os pagamentos. O
dinheiro seria levado todo dia 30 por Sterzo.
Ou seja: um prestador de serviços particulares do então
prefeito recebia seu salário (sem registro formal) das mãos de um secretário
municipal e depois numa empresa. Durante o trabalho, o tal prestador fazia
serviços que podiam envolver coisas públicas, como buscar documentos e
transportar pessoas.
Há que se considerar ainda que Messias usou, durante seu
depoimento à CPI, palavras no mínimo deselegantes para se referir a ex-secretários
municipais: “safado”, “sem-vergonha” e “cobra”. Também falou em blefe: “Ele
estava blefando e eu estava blefando com ele”. O “ele” em questão é o então
secretário de Assuntos Jurídicos, Sérgio Baptistella.
Não se trata, evidentemente, de relações saudáveis
envolvendo entes públicos.
Messias afirmou ainda que fez uma gravação suspeita
envolvendo o hoje presidente da Câmara Municipal, Carlinhos Silva (sem partido),
no período em que uma comissão de vereadores apurava denúncias de
irregularidades envolvendo a compra pela prefeitura de peças para veículos no
Guarujá, litoral sul de São Paulo.
Alegando não ter provas, o depoente não quis revelar
detalhes do que fora gravado. Contudo, disse claramente que fez o serviço a
mando de Ricko e de Félix. A fita com a gravação teria sido entregue a Ricko.
Não se trata, mais uma vez, de relações saudáveis envolvendo
entes públicos.
Em tempo: é importante frisar que a versão apresentada por
Messias na CPI é a mais “inocente” de todas as levantadas até o momento.
0 comentários:
Postar um comentário