Dois mitos
do século 20 morreram em Los Angeles num dia 5 de agosto: Carmen Miranda, em
1955, aos 46 anos, e Marilyn Monroe, em 1962, aos 36. Eram fenomenais, maiores
que a vida e foram vítimas, ambas, de anos de abuso de substâncias legais, mas
letais. Deixaram um imenso legado artístico e são cultuadas hoje por pessoas
que nem eram nascidas quando elas partiram. A forma como se administra seus
legados é que difere.
Marilyn, por
exemplo. Nesses 50 anos, seu rosto nunca saiu da mídia, e sua imagem em "O
Pecado Mora ao Lado", com o vestido branco esvoaçando e a calcinha à
mostra, foi copiada, caricaturada e explorada de todo jeito, por fãs sinceros
ou apenas espertos. Há pouco, materializou-se numa estátua de oito metros de
altura, exposta numa praça de Chicago.
Os livros a
seu respeito já chegam a mil - qualquer um que tenha passado 15 minutos perto
dela sente-se apto a escrever suas "memórias de Marilyn". E a teoria
segundo a qual ela foi morta pelo FBI, a mando dos Kennedy, continua a render
vários livros por ano. Tudo isso é visto com indiferença ou prazer pelos
herdeiros de Lee Strasberg, fundador do Actor's Studio, a quem Marilyn deixou
seu espólio.
Eles sabem
que é esse material que mantém Marilyn viva e faz com que seus filmes nunca
deixem de circular. Não importa o formato (VHS, laser, DVD, blu-ray, o que
vier), eles sempre estarão à venda e atraindo propostas para Marilyn estrelar
campanhas publicitárias, produtos de beleza, joias, até óculos. É daí que vem o
dinheiro - e Marilyn ganha mais hoje do que em vida.
Já a
eternidade de Carmen depende de seus amorosos fãs. Amanhã, um grupo deles,
reforçado pelo Império Serrano, o Bola Preta e a Confraria do Garoto, irá ao
seu túmulo no São João Batista pedir algo modesto, mas que lhe é devido há
muito tempo: uma estátua no Rio.
Fonte: Ruy Castro,
“Folha de S. Paulo”, Opinião, 4/8/12, p. 2.
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