Assistindo à primeira temporada de “Clube dos
Correspondentes”, série da Globo News, comecei a pensar no Brasil e nas nossas
falhas (ou desafios, chame como preferir).
Ouvir um correspondente é, como disse certa feita um amigo,
“olhar a garrafa pelo lado de fora” para quem sempre esteve dentro dela. Em
outras palavras, ter outra visão.
Naturalmente, fazer esse exercício exige boa dose de
humildade e abertura para ouvir, enxergar e refletir (como você se comporta
diante da crítica ou do apontamento de um colega ou amigo?).
Voltando à questão principal: dos tantos apontamentos
feitos, dois chamaram mais a atenção. Um deles veio do correspondente da rede
de TV Al-Jazeera, a principal emissora de notícias do mundo árabe. Questionado
sobre o que lhe causava mais espanto no Brasil, ele respondeu sem titubear: o modo como o brasileiro assimilou a violência no dia-a-dia.
Segundo esse correspondente, é comum no mundo ocidental as
pessoas imaginarem que as cidades e os países árabes vivem um eterno conflito bélico,
com tiros e mortes todos os dias pelas ruas.
Ao contrário, disse ele: há, sim, guerras estabelecidas, mas
em locais específicos. Em geral, falou o jornalista, as cidades são pacíficas e
pode-se sair às ruas, ir ao supermercado e ao cinema com toda tranquilidade,
sem o aparato de segurança (oficial e não-oficial) que se vê no Brasil.
O correspondente contou que a filha, quando esteve no
Brasil, assustou-se ao ver tanta gente armada em tantos lugares – nos bancos,
hospitais, casas noturnas, nas ruas. De acordo com ele, o brasileiro
acostumou-se a este estado de violência e não se dá conta do clima de
insegurança e terror em que vive.
Ontem, no último programa da série (foram quatro na primeira
temporada), o correspondente de uma agência de notícias da China enumerou os
três problemas que mais chamam a atenção dele no Brasil: corrupção, burocracia
e baixa eficiência.
Ao ouvir, refleti sobre como um problema está umbilicalmente
ligado ao outro: a corrupção favorece a burocracia e se alimenta dela. O
resultado de uma e outra é a pouca eficiência.
Será que poderemos um dia nos considerar desenvolvidos de
fato sem resolver estas questões básicas de civilidade?
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