O caso dos atentados a bomba em Boston durante a famosa maratona
internacional na última segunda-feira (15/4) reacendeu o debate a respeito do
trabalho da imprensa. Tudo porque alguns dos principais veículos de informação
dos Estados Unidos, na ânsia de sair na frente (dar um “furo”, no jargão
jornalístico, uma informação em primeira mão), deram uma notícia equivocada
(cometeram uma “barriga”, também no jargão da imprensa, informação falsa).
Uma agência de notícias e depois, em série, a rede CNN, Fox News
e outros informaram que um suspeito havia sido preso. A polícia norte-americana
precisou vir a público negar a informação. De fato, ninguém tinha sido detido.
Erros deste tipo costumam ocorrer em coberturas tensas e
inesperadas como a dos atentados. Via de regra, a pressa para informar faz com
que jornalistas e editores “pulem” etapas importantes da apuração, aumentando
significativamente o risco de erros (ou das famosas “barrigas”).
No Brasil, notabilizou-se o chamado caso da escola Base na
década de 1990 (responsáveis por uma escola infantil de São Paulo foram acusados
indevidamente de abusar das crianças e a imprensa “embarcou” nas denúncias).
O que me chamou a atenção no caso foi o quase pioneirismo da
CNN no erro. No ano passado, tive a oportunidade de conhecer a sede da emissora
em Atlanta (EUA) e conversar com os principais jornalistas e executivos da
empresa.
Um dos diretores do CNN Wire, Kurt Muller, falou do risco de erros em coberturas de maior vulto. Ele destacou o sistema que havia sido criado
– o Wire - justamente para evitar a divulgação de informações erradas. Uma das
ações foi centralizar a apuração dos dados que vinham de várias fontes e
equipes e unificar a posterior divulgação.
Muller citou o caso da prisão do terrorista saudita Osama
bin Laden, informada pela CNN antes mesmo do governo norte-americano (um “furo”
arriscado). O diretor explicou que apenas quatro pessoas em toda a rede, ele
incluído, podiam autorizar a divulgação de uma informação deste nível e baseada
em fontes não identificadas.
Foi basicamente o que ocorreu no caso de Boston – as informações
foram atribuídas a fontes oficiais.
Obviamente, não creio em má-fé da imprensa (principalmente
da CNN, que conheci). Naturalmente, houve um erro de apuração (não sei
exatamente se exclusivamente pela pressa ou por dar um nível de confiança
exagerado a uma determinada fonte ou a determinadas fontes).
Muller talvez pudesse responder.
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