Tive recentemente a
oportunidade de estar em quatro dos aeroportos que servirão à Copa do
Mundo de 2014 e, em um caso, aos Jogos Olímpicos de 2016. Viracopos (Campinas),
Santos Dumont (Rio de Janeiro), Guarulhos (São Paulo) e Pinto Martins
(Fortaleza). No ano passado, estive também no Galeão (Rio de Janeiro).
Os aeroportos de Campinas e
Guarulhos foram recentemente concedidos pelo governo federal à iniciativa
privada. O do Galeão, principal porta de entrada para estrangeiros no Rio, deve
seguir o mesmo caminho este ano.
É cedo ainda para avaliar
com segurança a validade das concessões (elas não completaram sequer um ano).
Nos dois aeroportos concedidos, há alguma melhoria. Pouca, porém.
As recentes visitas a estes
aeroportos me permitem afirmar com tranquilidade e categoria: do ponto de vista
da infraestrutura, a pouco mais de um ano da Copa (e a um mês da Copa das
Confederações), o Brasil NÃO ESTÁ preparado para receber os eventos.
As falhas estruturais são
gritantes, saltam aos olhos. Vamos a algumas situações:
1 – Viracopos e Cumbica/Guarulhos
ganharam “puxadinhos”. Para quem os conhece, será fácil entender as descrições
seguintes.
Em Campinas, o antigo
corredor coberto que ficava entre o saguão de embarque e o pátio de parada das
aeronaves virou uma nova área de embarque, uma espécie de “terminal 2”. Se seu
portão for além da letra G (ou H, não me recordo com exatidão) será levado até
lá. Foi adaptado com rapidez, é verdade, tem piso de granito, tudo novo, mas só
vi um estande para comes e bebes. Não deixa de ser paliativo.
Em Guarulhos, além do
terminal 3 que já havia sido feito fora da estrutura então existente, o que
exige pegar um ônibus até lá, um novo saguão foi erguido no meio do pátio de
parada das aeronaves. Tanto que dele é possível ver os aviões de companhias
estrangeiras que chegam a São Paulo e ficam esperando o voo de retorno. Como em
Campinas, tem piso adequado, tudo novo, mas não deixa de ser um “puxadinho”.
Aliás, não entendo porque
Guarulhos ainda recebe voos regionais, como para Passo Fundo (RS), Joinville (SC)
e Ribeirão Preto (SP). Um outro aeroporto devia sediar estas operações,
deixando o maior aeródromo do país exclusivamente para voos internacionais e
nacionais de maior demanda.
2 – em nenhum dos
aeroportos o sistema de informação funciona adequadamente. Em Viracopos, tive
que perguntar a um funcionário onde estava o meu portão de embarque, já que eu
desconhecia o “puxadinho” e praticamente não havia placas indicando o local.
Em Cumbica, você desce uma
escada para acessar os portões A1, A2... A15. E lá tem que ficar atento à
chamada do seu voo para pegar o ônibus que o levará ao tal “puxadinho”. Santos
Dumont, no hall de entrada, parece uma rodoviária lotada. Em Fortaleza, tive
que “intuir” onde ficavam os portões de embarque (no andar de cima).
3 – as informações de
acesso também deixam a desejar. Em Fortaleza, não havia uma placa sequer indicando
o local para deixar os carros alugados (serviço essencial num aeroporto). Como
havia apenas duas entradas – indicando “estacionamento” e “embarque” -,
dirige-me a uma delas. Tive que parar o carro, descer e perguntar onde deveria
entregar o veículo. Fui orientado a sair do estacionamento (quase tive que
pagar se demorasse mais um pouco) e pegar, acredite, a entrada de ônibus – isto
mesmo, a placa indicava apenas “Ônibus”.
Ainda em Fortaleza, o mapa
que recebi no hotel (e, talvez, o GPS) me levou a um aeroporto que não mais é
usado. Corri o risco de perder o voo (fiz o check-in correndo e meu nome foi
chamado no sistema de som para “embarque imediato”). Não bastasse a indicação
equivocada no mapa (que devia ser antigo), o tal aeroporto velho mantém o nome
do novo – Pinto Martins. Ou seja: um turista desavisado como eu achará que está
no lugar certo.
5 – funcionários e serviços
em geral não parecem preparados para receber o público específico de um grande
evento como a Copa. Em Fortaleza, dos seis guichês de aluguel de carros, quatro
não tinham veículos disponíveis. Ora, como uma cidade que vive do turismo e irá
receber a Copa não aumenta a oferta desse tipo de serviço diante de tal
demanda?
A funcionária que me
atendeu, embora muito gentil, não sabia falar inglês. Num restaurante, a
atendente do caixa mal conseguia pronunciar o nome do molho “Caesar” da salada
(ela falou tal como se lê, “Ca” – “e” – “sar”).
6 – Em nenhuma das cidades,
salvo o Rio, vi obras estruturais. Onde estão os corredores de ônibus? Trens de
superfície? Metrôs? Urbanização? Melhorias? Em São Paulo, o acesso a Guarulhos
continua restrito para quem não tem carro. Transporte público (leia-se ônibus
circular) é um caos. Sobram os táxis com preços abusivos. O desembarque está
caótico – e a polícia estava multando os infratores por lá.
Quem recorre aos
estacionamentos particulares da região chega a esperar de 30 minutos a uma hora
para ser pego pelas vans. Isto se achar vaga nos estacionamentos, costumeiramente
lotados. Se precisar mudar de terminal ou recorrer aos de carga terá que pegar
um táxi, pois ficam distantes (o que não é o principal problema) e com difícil
conexão ou até desconectados (este sim o principal problema).
Em Fortaleza, o acesso ao
aeroporto passa por regiões de pouca infraestrutura e aparente insegurança, o
que pode amedrontar os turistas (principalmente estrangeiros). Tampouco vi
alguma obra de acesso ao estádio do Castelão – ele fica um pouco afastado e só
se chega até lá de carro ou ônibus circular, ainda assim há poucas placas
indicativas.
Na capital paulista, não é
preciso dizer, o Itaquerão está à espera das obras viárias prometidas pelos
governos estadual e municipal.
Em Campinas, que não
sediará jogos da Copa, mas deve receber turistas em conexão para as
cidades-sede, é preciso facilitar a ligação direta de Viracopos com São Paulo.
Hoje, é preciso ir até a rodoviária para esta conexão.
7 – detalhes simples, mas
importantes, deixam a desejar nos aeroportos. Em Guarulhos (concedido à
iniciativa privada!), o banheiro estava sujo e fedorento. Dois funcionários
estavam ao lado dos mictórios conversando... Em Fortaleza, sob controle da
Infraero, o mau cheiro do banheiro era ainda pior – como também a sujeira. Será
tão difícil melhorar ao menos isto no curto prazo?
8 – em alguns casos (no
meu), atendentes de companhias aéreas não demonstram muito esforço para ajudar
os passageiros em suas dúvidas.
Paro por aqui porque o
relato já está longo. Gostaria apenas de fazer uma última observação: todas
estas situações e dificuldades foram enfrentadas por mim, brasileiro. Imagine
como será para um estrangeiro que não conhece nossos hábitos, nossa cultura e
nossa língua?
Ainda há tempo para
melhorar...
Em tempo: tirando os novos
estádios, já não tenho mais dúvida do tal legado da Copa para a população:
quase zero (salvo a inevitável movimentação econômica que o evento provoca nas
cidades).
1 comentários:
Fortaleza, o aeroporto sequer tem um banheiro para trocar de roupa, precisa trocar na frente de todos..., Comunicação Visual Zero, posto de atendimento hahaha é para dar risadas! Em questão de estacionamento, não tem lugar para estacionar?NAO.. e pior multam as vans que vão buscar os passageiros, oras bolas, se nao ajuda nao atrapalha!
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