Neymar fugiu da pergunta quando quiseram saber se ele
concordava com seu técnico no Santos, que classificou como inoportuno o
amistoso disputado pela seleção brasileira na Bolívia.
O menino repetiu as platitudes de sempre, ao falar de seu
orgulho em servir a seleção e, lamentável, disse que não entraria na polêmica proposta
pelo técnico do Santos, Muricy Ramalho.
Poderia perfeitamente ter feito as duas coisas: reafirmar a
satisfação em jogar pelo time e concordar com seu treinador.
Sabe que o aconteceria com ele por tamanha coragem?
Rigorosamente nada!
Mas não.
Na trilha da maioria de seus companheiros, Neymar não se
expõe, é incapaz de uma atitude cidadã, razão pela qual é submetido aos
calendários massacrantes, aos gramados ultrajantes e às botinadas sem castigo.
Neymar é um brasileiro típico, como aquele descrito por Zé
Ramalho em sua música que está no título da coluna, mas que é mais conhecida
como "Vida de gado".
Gado que é encaminhado para o matadouro sem mugir, porque as
coisas são como são e o melhor é que cada um cuide do próprio umbigo, ou do
bolso, onde, dizem, dói mais.
Neymar não disse, mas pode muito bem ter pensado, que, se em
vez de Luiz Felipe Scolari fosse Muricy Ramalho o técnico de plantão na CBF,
ele também convocaria quem foi convocado e não faria nenhuma crítica.
Infelizmente são raras as manifestações valentes de nossos
jogadores e é ocioso relembrar de Tostão, Afonsinho, Sócrates, não por
coincidência todos médicos, Paulo César Caju, Casagrande, Wladimir, ou, nos
dias de hoje, Paulo André.
Aves sozinhas que não fazem verão, apenas arejam o ambiente
para serem tratados como quixotescos - como se fosse uma ofensa.
Porque são poucas, também, as demonstrações cidadãs do povo
brasileiro, acostumado a ser tratado feito gado e com estômago de avestruz.
Cerca de 8.000 pessoas no culto ecumênico na praça da Sé, em
1975, para denunciar o assassinato de Vladimir Herzog.
Um milhão e meio em comício pelas Diretas-Já, no vale do
Anhangabaú, também em São Paulo, em 1984, logo depois que outra multidão de um
milhão se reuniu na
Candelária, no Rio.
Cerca de 750 mil caras-pintadas, em 1992, outra vez no vale
do Anhangabaú, para derrubar Fernando Collor.
E o que mais?
Collor, o primeiro presidente eleito depois das Diretas,
está aí, todo pimpão.
Quem ajudou a complicar Herzog também, na CBF e no Comitê
Organizador Local da Copa.
O Engenhão está interditado.
O Maracanã, superfaturado, terá de ser reformado para os
Jogos Olímpicos, o complexo olímpico ao seu lado foi fechado e será demolido e,
em Itaquera, e pelo país afora, moradores são removidos sem mais para obras da
Copa do Mundo e dos Jogos de 2016.
Zé Ramalho tem carradas de razão.
Mas têm, também, Vitor Martins e Ivan Lins, com seus
"Desesperar jamais".
Se bem que Neymar poderia ajudar um pouquinho que fosse.
Fonte: Juca Kfouri, “Folha de S. Paulo”, Esportes, 8/4/13.
PS: Infelizmente, o que vale para o Neymar vale para a ampla maioria dos jogadores brasileiros. Daí a situação do nosso futebol...
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