segunda-feira, 7 de janeiro de 2013 | |

Com 7 dias, governo Hadich enfrenta protesto

O governo Paulo Hadich (PSB) nem bem começou e um clima estranho, que mistura uma certa impaciência e uma certa ansiedade por parte da comunidade, já toma conta do ar – principalmente nos meios virtuais.

Tal clima está diretamente ligado aos acertos políticos feitos pela nova administração na composição da equipe de trabalho e nas alianças no Legislativo. Por quê, afinal?

Primeiro porque Hadich elegeu-se com base no discurso da mudança. Não pega bem, portanto, ter atrelado o apoio do PMDB à sua candidatura, entre outras coisas, à distribuição de cargos no primeiro escalão – fato apurado e divulgado pelo blog “Limeira 2012” ainda durante a campanha eleitoral.

Também não soou bem a aliança visando a escolha da Mesa Diretora da Câmara Municipal com o partido que foi o “patinho feio” da última eleição, renegado por quase todos: o PDT do prefeito cassado Silvio Félix.

Na eleição, estar com o PDT (como esteve o candidato Kleber Leite, do PTB) significava unir-se ao passado, a “mais do mesmo”. O petebista foi criticado e cobrado pelo apoio que recebeu da sigla sobre a qual Félix ainda exerce influência. Passada a eleição, a situação do PDT mudou? Ou vale tudo em nome da tal governabilidade?

Pior: um dos expoentes na defesa de Félix durante a crise que levou à cassação do então prefeito, o ex-vereador Silvio Brito, foi nomeado na prefeitura de Campinas - comandada agora pelo ex-deputado Jonas Donizete, do mesmo PSB de Hadich. A informação foi dada pelo Jornal de Limeira. Sinal de troca de favores que não cai bem para quem prometeu novas práticas na administração.

É importante destacar que a informação sobre a nomeação de Brito em Campinas surgiu após a reação à possível indicação dele como secretário legislativo em Limeira, o cargo mais alto na estrutura da Câmara Municipal.

A possível nomeação de Brito no Legislativo limeirense como fruto de um acordo político em favor da eleição de Ronei Martins (PT) à presidência da Casa gerou tamanha reação negativa que o petista, já na condição de presidente eleito, viu-se forçado a divulgar uma nota negando a intenção de colocar o ex-vereador em qualquer cargo.

“(...) o acordo com o PDT para a eleição da mesa diretora da Câmara de Limeira baseou-se exclusivamente na distribuição das funções da mesa eleita, tendo sido acordado com este partido a vice-presidência, destinada ao vereador Farid Zaine.

Reitero que nenhum vereador, tampouco a vereadora Erika Tank, solicitou a participação do Silvio Brito nos quadros do Legislativo, tampouco no Poder Executivo”, citou Ronei na nota.

Não bastasse isso, há a polêmica das nomeações de pessoas com problemas judiciais nas respectivas passagens pela administração pública, notadamente o ex-prefeito de São Vicente, Tercio Garcia (mais aqui e aqui).

Homem de confiança do chefão do PSB em São Paulo, o ex-prefeito de São Vicente e hoje deputado federal Márcio França, Garcia foi nomeado secretario da Administração do governo Hadich, o que já motivou um protesto – tímido, é verdade, mas um protesto – em frente à prefeitura nesta segunda-feira (7/1).

  
Não foi só a nomeação dele que gerou polêmica. A do diretor na área de Transportes, Paulo Jorge Zeraik, também recebeu críticas.

As manifestações resultam de duas situações novas, umbilicalmente ligadas: 1) a cassação de Félix expôs aspectos nocivos que permeiam a entranha das administrações públicas brasileiras; e 2) o despertar da população, que passou a não tolerar mais facilmente indícios de irregularidades na administração em Limeira.

Geralmente, o problema começa na nomeação política, que muitas vezes atende interesses não-republicanos.

Na “melhor” das hipóteses, o resultado será a conhecida ineficiência do governo, como ficou evidente com as recentes melhorias nos aeroportos concedidos à iniciativa privada: "Os consórcios contrataram técnicos. Não tem mais essa de apadrinhados de partidos políticos", disse à “Folha de S. Paulo” o professor titular do departamento de transporte aéreo do ITA, Claudio Jorge Pinto Alves.

Importante: como se vê, o problema não reside exatamente no controle público de um determinado setor e sim nas práticas politiqueiras que dominam as administrações.

Ou seja: quem paga o preço – alto!, registre-se – é sempre a população (recebendo serviços precários e/ou vendo o dinheiro público escorrer pelos ralos).

Contudo, como o próprio Hadich afirmava na campanha, Limeira nunca mais será a mesma após o escândalo envolvendo a família Félix.

A sociedade aprendeu definitivamente a abrir a boca – e quem tem boca vaia Roma (este é o ditado correto).

Aprendeu a se mobilizar (ainda que isto se dê basicamente nas redes sociais, com uma participação física efetiva ainda pequena dos cidadãos).

Aprendeu a identificar possíveis focos de problemas – daí a vigilância extrema em relação às nomeações feitas pelo novo governo, já que o caso Félix evidenciou a importância do ditado “dize-me com quem andas...”.

De algum modo, os protestos (que podem parecer um tanto precoces para um governo com apenas sete dias) envolvendo a administração Hadich são fruto de algo que o próprio prefeito ajudou a construir. O pessebista, de certo modo, “paga o preço” (não que ele tenha reclamado de algo, fique bem claro; aliás, reiterou numa conversa informal que vem adotando novas práticas, o que desagrada “quem está acostumado a fazer as coisas sempre do mesmo jeito” ou a achar “que só tem um jeito para fazer as coisas”).

Pode até parecer prematuro o protesto público em frente ao Edifício Prada, sede do Executivo, nesta segunda-feira. Melhor, porém, que seja assim ao que se via antes, massas silenciosas.

Hadich há de compreender que Limeira mudou. E não há como voltar ao que se tinha antes – sim, trata-se de uma nova realidade irreversível. Para o bem de todos, da coisa pública e, por que não?, da própria administração.

Em tempo 1: o clima está quente nos bastidores. Em pelo menos uma ocasião, numa roda política, já se ouviu a pergunta: “quem assumirá mesmo se o Paulo (Hadich) sair?”.

Calma lá! Com sete dias de governo, Limeira está longe de ter qualquer evidência de um novo caso Félix. Anos-luz de distância (por enquanto). Percebe-se apenas um princípio de decepção diante dos sinais de que o novo governo não escapou das influências político-partidárias (e os riscos que elas podem causar), apesar das negativas durante a campanha eleitoral.

Em tempo 2: o ex-vereador Mário Botion foi um dos primeiros a tornar pública a sensação de decepção com práticas do novo governo. Em sua página no Facebook, escreveu recentemente: “Tristeza ao saber que mudaram as pessoas, mas as práticas parecem ser as mesmas! A grande diferença nas boas composições políticas está na capacidade de não ultrapassar os limites. Se confirmadas as informações divulgadas, infelizmente temos que nos preparar para um 'novo' velho ciclo na política limeirense! Lamentável”.

Em tempo 3: um vereador manifestou ao blog algo semelhante.

0 comentários: