segunda-feira, 12 de janeiro de 2009 | |

O medo e os sinais da vida

É espantoso como a sabedoria é sábia (atenção: redundância proposital) e pode vir das pessoas e nos momentos mais surpreendentes.

Alguém disse certa vez que a diferença entre o remédio e a droga é a dosagem. Exatamente o mesmo acontece com o medo. Há um limite tênue entre a necessária cautela e a paralisia. Um miligrama a mais ou a menos pode ser fatal - ainda que não de modo literal.

Estou escrevendo tudo isso porque ontem um amigo e eu tomávamos um chope, como aliás há muito tempo não fazíamos (subversivamente numa segunda-feira), e discutíamos justamente o medo - e seus sinônimos comportamentais que nos impedem de agir, de correr atrás, de arriscar (este é "o verbo"). Apresentávamos uma série de teorias, com as quais ambos concordamos, e voltávamos sempre ao mesmo ponto: o medo de arriscar em razão do comodismo.

O mais engraçado é que sempre neste ponto da conversa discutimos como se não fôssemos nós os envolvidos no assunto, como se aquilo não nos dissesse respeito, como se não coubesse a cada um de nós agir. Fazemos o diagnóstico, sabemos a saída e não agimos.

Foi exatamente neste ponto da conversa que a garçonete chegou. Tínhamos ido ao local para tomar uns dois ou três chopes. Ela ofereceu mais e negamos. Brincamos que ela estava querendo ganhar comissão, ela explicou que não e disparou o morteiro:

- Vocês estão é com medo!

Meus Deus. São raras as vezes em que alguém consegue resumir de forma tão marcante uma conversa. Aquela frase soou como uma flecha, disparada por um sábio arqueiro em direção ao alvo. Não tenho dúvida, foi um sinal. De Deus, do universo, da sabedoria, transmitido por aquela humilde garçonete.

Tenho lido umas coisas ultimamente que falam exatamente disso, da necessidade de sabermos identificar os sinais que a vida nos dá. A frase daquela mulher foi um sinal. O recado foi dado. Cabe a cada um recebê-lo ou ignorá-lo - só não se poderá depois acusar a vida de não ter alertado.

PS: como fiz no final de 2008, pretendo em dezembro reproduzir as frases que marcaram meu ano. Eis aí a primeira delas...

Em tempo: após a frase, acabamos pedindo mais alguns chopes. Além de transmissora involuntária de sinais, a moça é boa vendedora.

1 comentários:

Cristiano Persona disse...

Piscitelli, isso me faz lembrar do dia em que falamos da função do dinheiro na vida das pessoas: a liberdade.

Se não pelo medo de não ter dinheiro, todos levariam a vida de maneira mais natural, valorizando muito mais a felicidade. Sem a necessidade do dinheiro e, consequentemente, sem esse medo, conheceríamos as pessoas de fato.