Outro dia estava discutindo com um grupo de amigos quais as soluções para a violência. Dois defendiam a pena de morte; um outro e eu ponderávamos que a saída é a educação e a forte presença do Estado (resultados a médio prazo, obviamente). No domingo passado (4/1), li na "Folha de S. Paulo" um artigo do jornalista Gilberto Dimenstein - "Entre o Bronx e a cracolândia" - que ajuda a clarear um pouco o que penso a respeito do assunto.
Já na introdução, ele explica: "O senso de coletividade foi um dos ingredientes que fizeram a falida Nova York retornar a sua exuberância". A seguir, alguns trechos do artigo:
"MORADOR DE HIGIENÓPOLIS há 40 anos, Norman Gall foi criado em South Bronx, em Nova York. O sossegado bairro de imigrantes europeus se transformou, na década de 1970, no símbolo da degradação urbana dos Estados Unidos - com guerras de gangues e incêndios criminosos, era o cenário de muitos dos filmes sobre violência nova-iorquina. Mas, hoje, é um daqueles laboratórios de soluções urbanas, admirados mundialmente. Norman voltou recentemente para a escola pública em que estudou e se admirou com as inovações. Não apenas escreveu um livro sobre o que viu, mas estabeleceu uma ponte para que a experiência pudesse, neste ano, ser testada em colégios estaduais na zona leste de São Paulo e daí, quem sabe, ser replicada.
(...) Indivíduos como Norman Gall revelam uma cidade com um crescente senso de coletividade -no qual não se esperam soluções apenas do governo- e foi esse um dos ingredientes que fez a falida Nova York retornar para a sua exuberância. Em São Paulo, há dezenas de instituições e empresários que vêm assumindo projetos sociais e escolas públicas. Um dos mais famosos publicitários brasileiros, Nizan Guanaes me disse que vai usar seus recursos e contatos para criar, na periferia, uma escola de referência nacional. É o que pretende a Faap ao adotar uma escola na zona oeste. Batem recordes as captações de recursos para programas de proteção à infância e à adolescência.
Boa parte da elite paulistana se aglutinou no movimento Nossa São Paulo, criando metas para toda a cidade. O fato de a violência na cidade cair ininterruptamente desde 1999 e praticamente tirar do assassinato o rótulo de epidemia se explica, em parte, pela ação da sociedade, onde nasceu a campanha pelo desarmamento. Movimentos pela paz se disseminaram em regiões como Jd. Ângela, Paraisópolis e Heliópolis.
São Paulo tem a vantagem de viver uma desconhecida harmonia entre um prefeito e um governador, cujos principais investimentos nos próximos anos serão na região metropolitana, entre os quais metrô, Rodoanel e escolas técnicas. Essa será uma das vitrines de José Serra. Essa parceria favorece acertos nas mais diferentes áreas, como cultura e educação, que se concentram em espaços municipais. Embora em menor escala, a cidade vem conseguindo que os três poderes (federal, estadual e municipal) trabalhem juntos, como em Heliópolis, onde se desenvolveu o conceito de bairro educador, previsto para ser disseminado pela prefeitura.
Além do aumento do sentimento de coletividade e da parceria com o governo estadual, São Paulo terá políticas razoavelmente ininterruptas por dois mandatos; afinal, Kassab ficará (isso se cumprir sua promessa) por quase oito anos no cargo. Ele está com prestígio em alta, não terá um ano para se adaptar à maquina da prefeitura - e não perderá um ano no final de seu mandato, metido numa eleição. É bastante tempo para que ele revitalize a região da Luz, conhecida como cracolândia, a nossa versão do South Bronx, implante as escolas em tempo integral, espalhe centros culturais e saúde pela periferia, e transforme favelas em bairros.
(...) Um dos fatos que mais marcaram meu aprendizado sobre engenharia comunitária foi ter sido apresentado ao South Bronx por ex-chefes de gangues, que se converteram em reformadores de casas abandonadas. O combate à barbárie rumou das ruas para dentro das escolas, gerando resultados extraordinários, devido a uma série de ousadias. Aqui, ouvi a frase que sempre quis ouvir de um governante brasileiro. O prefeito Michael Bloomberg pediu aos eleitores que o julgassem por um critério: "Quero ser avaliado pelo desempenho dos meus alunos". Cada vez que volto aqui, vejo que ele está vencendo, a tal ponto que algumas das suas ações se espalham pelo mundo, como na zona leste. Mas também percebo como a resistência paulistana é um dos fatos sociais mais interessantes do Brasil."
PS: esta postagem é dedicada ao amigo Rogério.
domingo, 11 de janeiro de 2009 | Postado por Rodrigo Piscitelli às 14:22 |
Violência e sociedade
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