Outro dia um amigo escreveu no blog dele que o ser humano enxerga o que lhe convém. É fato. Da mesma forma, o ser humano tem dificuldade para lidar com a realidade. Obviamente, nos dois casos são generalizações - elas existem para indicar tendências comportamentais de um grupo. O curioso é perceber como estas características se dão na prática.
Outro dia, eu vivi uma experiência interessante. Acabei de sair do emprego onde estava há dez anos, num jornal. Foi, portanto, uma decisão difícil para mim e para os outros. Combinamos - a direção da empresa e eu - que ficaria até uma determinada data e elaboramos um planejamento de transição. Pelo planejamento, nesta semana - a última - eu ficaria "invisível". Ou seja: só observaria eventuais falhas processuais, não atuando diretamente em nenhum dos processos.
Para mim a tarefa não foi tão difícil. O mais difícil foi para os outros. Muitas pessoas teimavam em recorrer a mim. Delicadamente, eu explicava que aquela tarefa não me cabia mais. Oficialmente, porém, eu ainda era o editor-chefe (embora na prática não estivesse mais exercendo o cargo).
Num dia desses à tarde, estava na sala do gerente comercial quando tocou o telefone. Era um leitor que queria falar comigo (na verdade, com o editor-chefe). O gerente comercial atendeu, ensaiou alguma desculpa, olhou-me como quem dissesse "o que eu falo?" até que disparou, prático como ele só:
- Diga que o Rodrigo não é mais o editor-chefe do Jornal.
Ele riu, eu ri. Ele ainda comentou com certo tato: "é isso, né?". Claro que era isso - e o tato era dispensável. A seguir comentamos justamente sobre a dificuldade das pessoas admitirem uma nova realidade e a necessidade de falar isso claramente, como ele fez.
PS: confesso que ainda não tinha ouvido alguém falar tão diretamente que eu não era mais o editor-chefe. Como eu sempre soube que tudo na vida é passageiro, inclusive os cargos que ocupamos, não me choquei. Fico imaginando como é "o dia seguinte" para uma pessoa que ocupa um alto cargo, como o presidente da República, e que vive sendo bajulada em função disso... Sim, porque há muitas pessoas que se apegam a isso e se esquecem que são lembradas mais pelo cargo que ocupam do que pelo que efetivamente são.
Em tempo: o ano novo mal começou e eu já tenho duas frases que entrarão no meu resumo de 2009.
sexta-feira, 16 de janeiro de 2009 | Postado por Rodrigo Piscitelli às 10:08 |
Encarar a realidade
Assinar:
Postar comentários (Atom)
0 comentários:
Postar um comentário